quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Nove mil a mais na fila do desemprego na RMF

25.09.2014

A quantidade de desempregados bateu recorde mês passado. Já a taxa foi a maior dos últimos doze meses

Image-0-Artigo-1707320-1
Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o setor privado eliminou 11 mil empregos na RMF em agosto, com o fechamento de três mil vagas com carteira assinada e oito mil postos sem carteira
FOTO: MARÍLIA CAMELO
O desemprego cresceu pelo segundo mês consecutivo na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), num comportamento considerado atípico para o mês de agosto. Apesar do crescimento das ocupações, com a criação de 12 mil postos de trabalho entre julho e agosto, a pressão sob o mercado foi mais intensa, com o acréscimo de 21 mil pessoas na População Economicamente Ativa (PEA) local. A equação resulta no ingresso de mais nove mil na fila do desemprego no mês, totalizando 153 mil desempregados na RMF, com elevação da taxa de desemprego para 8,2%, em agosto - 0,4 pontos percentuais além do índice de julho.
A taxa de desemprego também foi a maior dos últimos 12 meses e o contingente de desempregados bateu recorde para o mês desde 2008. Em relação a agosto de 2013 o número de desempregados cresceu 7% no oitavo mês de 2014. Em números absolutos, foram 10 mil desempregados a mais no comparativo anual (agosto 2014/2013).
Os dados constam na edição de agosto da Pesquisa de Emprego e Desemprego na RMF (PED), realizada mensalmente, desde dezembro de 2009, pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), órgão vinculado à Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Setores
Conforme o estudo, o total de ocupados na RMF, em agosto, foi estimado em 1,7 milhões de pessoas, sendo que o aumento das ocupações foi puxado, principalmente, pelos setores da construção civil, que criou oito mil vagas e experimentou alta de 6,1%, e da indústria de transformação, que gerou sete mil ocupações com 2,4% de crescimento.
Ambos foram seguidos pelos serviços, que contabilizou leve alta de 0,1%, com a criação de mil vagas. Em contrapartida, o comércio e reparação de veículos eliminou seis mil vagas, com queda de 1,5%.
Considerando a posição na ocupação, o levantamento revela redução de 1% do emprego assalariado (-11 mil), decorrente da eliminação de 11 mil empregos no setor privado (-1,2%), que fechou três mil vagas com carteira assinada (-0,4%) e oito mil postos sem carteira (-4,3%).
Na contramão, o nível ocupacional cresceu entre os autônomos, que teve o acréscimo de 25 mil ocupações e alta de 5,9%, e os empregados domésticos, com alta de 1,8% e a abertura de dois mil postos, sinalizando a tendência de precarização do mercado de trabalho. Já entre os agregados e demais posições o emprego também caiu, com a eliminação de quatro mil vagas, resultando em retração de 4,5%.
Disparidade
O levantamento sinaliza também o aumento da disparidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho da RMF. "A cada 100 mulheres no mercado, metade está procurando uma vaga. A taxa de participação feminina subiu de 49% para 49,9% de julho para agosto porque o mercado não absorveu essa força de trabalho, tanto que elas apresentaram a maior alta na taxa de desemprego no mesmo período, de 8,9% para os atuais 9,5%. Enquanto isso, a taxa dos homens ampliou somente de 7% para 7,1%, aumentando a disparidade entre os sexos", observa Erle Mesquita, analista de mercado de trabalho do IDT, segundo quem a taxa de participação masculina cresceu de 66% para 66,3% no comparativo mensal.
Entre os jovens de 16 a 24 anos, cuja taxa de participação passou de 57,6% para 58,4%, a taxa de desemprego baixou de 20,7% para 20%, indicando que o mercado absorveu parte da mão de obra nessa faixa etária. "Os mais penalizados continuam a ser mais impactados, mas é possível ver melhoras no desemprego juvenil. Já entre homens e mulheres a disparidade tornou a crescer, acentuando a desigualdade entre sexos", frisa.
Rendimentos
Entre junho e julho os rendimentos médio reais diminuíram entre os ocupados (-1,4%) e os assalariados (-1,1%), sendo estimados em R$ 1.197 e R$ 1.223, respectivamente. A renda reduziu tanto no setor privado (-0,7%) como no setor público (-2,9%), atingindo com carteira (-0,7%) e sem carteira (-1,9%).
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Mercado devia estar aquecido
Pela primeira vez, a taxa de desemprego cresceu em dois meses consecutivos, num momento em que o mercado deveria contratar mais. Além disso, o contingente de desempregados foi bem maior em agosto desse ano do que em 2013. O mercado devia estar aquecido, mas não está absorvendo o número de desempregados. Outro ponto que merece ser analisado é o fato de o volume de ocupações, que vem sendo geradas, serem voltadas a funções mais masculinizadas e postos precarizados. São ocupações precárias em que só jovens e homens aceitam. Então há um aumento da precarização do mercado de trabalho local ligado ao trabalho autônomo, ao emprego doméstico e à queda da renda. No comparativo anual ainda vemos o crescimento dos empregos com carteira assinada e a queda dos sem carteira, mas o nosso ambiente permanece ligado à informalidade. Em tempos de dificuldade, os empregos são gerados na informalidade mesmo, por isso o aumento de ocupações entre autônomos e domésticos. Esse cenário de queda na renda associado ao aumento de postos de trabalho precarizados é uma fotografia real do mercado de trabalho da Região Metropolitana de Fortaleza. No Nordeste somos a única Capital com alta na taxa de desemprego. Embora com taxas mais altas, Salvador e Recife se mantêm estáveis. Essa é a foto do nosso mercado em agosto.
Ediran Teixeira
Coordenador da PED no Dieese
Ângela Cavalcante
Repórter

Nenhum comentário:

Postar um comentário