sábado, 28 de maio de 2016

Pesca é inviabilizada por falta d’água

Estima-se que cerca de mil pescadores debandaram pela falta de peixes no açude ( FOTOS: JOSÉ AVELINO NETO )
Há três anos, dez caminhões transportavam cerca de 300 toneladas de peixes para Campina Grande, Arapiraca, Piauí, Rio Grande do Norte e Fortaleza, por semana. Hoje, a carga se resume a uma tonelada a cada sete dias
Banabuiú. O terceiro maior açude do Ceará, localizado nesta cidade do Sertão Central, a 220Km de Fortaleza, está seco. A cidade vive o drama de uma das piores estiagens dos últimos 24 anos e a pesca artesanal ficou comprometida. Vários pescadores que tiravam da atividade o sustento da família, estão passando fome. Sem alternativa, muitos foram embora e a cidade assiste a uma debandada da comunidade ribeirinha.
“Hoje a situação está bem difícil. A pessoa tem que ter outra coisa pra fazer”, diz Sandoval Bezerra da Silva. Com 42 anos, sendo mais de 30 investidos na pesca, Sandoval vê o momento com preocupação e se espanta sempre que vai ao açude. “O que é que vai ser desse povo aí?”, pergunta.
Segundo Genival Maia Barreiro, presidente da Colônia de Pescadores Z-14, de Banabuiú, cerca de seis mil pescadores do Município estão vivendo uma situação difícil. “Muito pescador daqui passa fome! Tem deles que você chega em casa e não tem açúcar pra adoçar um café. Várias famílias têm deixado os filhos dormirem até mais tarde para que não acordem e peçam o que comer. Tem pescador que está vendendo a canoa para ter dinheiro para comprar o que falta”, fala assustado.
Abandono
Exatamente 1.124 pescadores artesanais são cadastrados na Colônia. A categoria jamais imaginou que algum dia a seca fosse comprometer a atividade, por isso, nunca largou a vara e o anzol para tentar outro meio de vida. Com o agravo da situação, cerca de mil resolveram ir embora para Estados como Goiás, Pará, Pernambuco, Minas Gerais e Bahia.
Quem não foi, teve que mudar de ramo. “Hoje eu vivo quebrando pedra porque se eu fosse viver de vender peixe, eu morria de fome”, diz Francisco Ananias Soares de Sousa, 56.
A desmotivação se sobrepõe às dificuldades. Filhos de pescadores que resistiram em ir embora, hoje, recorrem ao caminho do crime para driblar o da fome, onde o dinheiro leviano surge fácil e sem muito esforço.
Economia
A atividade era responsável por impulsionar a Economia do município. Há três anos, dez caminhões transportavam cerca de 300 toneladas de peixes para Campina Grande, Arapiraca, Piauí, Rio Grande do Norte e Fortaleza, por semana. Atualmente, a carga se resume a uma tonelada pescada a cada sete dias. “Esse açude aí era a maior empresa de Banabuiú”, revela Genival.
O Açude Arrojado Lisboa, conhecido como Banabuiú, tem capacidade de um bilhão e 601 milhões de metros cúbicos de água. Hoje, está com mais de 13 milhões de metros cúbicos acumulados, totalizando 0,83% de sua capacidade. No lugar de água, há o mato que cresce, e moradores de distritos que antes atravessavam o açude de barco para poder chegar à cidade, agora, passam pelo local de moto, em caminhos que foram abertos no chão seco do reservatório.
Alternativas
Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros de Pesca do Ceará (AEP-CE), Antônio Diogo Lustosa, a alternativa é o investimento em tecnologias em prol da atividade. “Nós temos programas que possibilitam produzir em grande escala com qualidade”, afirma. Ele cita, como exemplo, o sistema de cultivo de biofocos, ação inédita que chegará ao Ceará em breve por meio da iniciativa privada, onde peixes são criados em lonas que servem como tanques, e alimentados por colônias de bactérias. “A água pode ser reusada, os tanques não precisam ser cavados e em um hectare você produz a mesma quantidade do que produziria em 150 hectares”, explica. Como uma solução em casos de pouco recurso, Diogo aponta o incentivo à criação de camarão. “É barato e pode ser reproduzido em pouca água”, avalia.
Segundo o secretário-adjunto de Agricultura, Pesca e Aquicultura do Estado, Euvaldo Bringel, o amparo ao pescador tem sido garantido por iniciativas que já contam com a garantia dos recursos. “Temos o programa de peixamento, em que levamos unidades de alevinos para se procriarem nos açudes. Já compramos dois milhões de alevinos para serem entregues. E os recursos para estes e outros programas estão garantidos porque esta é uma prioridade do Governo”, disse. Procurada, a Secretaria de Pesca de Banabuiú não conversou com a reportagem.

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