segunda-feira, 25 de julho de 2016

Jovens candidatos pregam mudança


Nenhum deles já chegou aos 30, nem foi eleito para algum cargo eletivo. Se, às vésperas do início do período de campanha, pré-candidaturas jovens despontam Brasil afora, em Fortaleza não é diferente. Por aqui, mesmo com pouca idade, alguns nomes já se anunciam como pré-candidatos a vereador. As rotas que levam cada um à disputa eleitoral são diferentes, mas, em comum, eles buscam entrar na "vida pública" com um discurso de crítica ao atual cenário político do País, aliado à proposta de renovação da Câmara Municipal.
Ouvir o que tais candidatos têm a dizer, contudo, é também deparar-se com pensamentos e bandeiras diversas, reflexos da trajetória de cada um. Em busca dos porquês que os fazem querer ingressar na carreira política, o Diário do Nordeste conversou com quatro jovens neste perfil. Dois deles vão disputar eleição pela primeira vez.
Não é o caso do advogado Pedro Matos, que, aos 23 anos, se prepara para o segundo pleito municipal como candidato. Ele já havia se candidatado ao cargo de vereador em 2012, quando tinha 19 anos, mas não foi eleito. A caminhada política começou aos 18. "Eu tinha acabado de ingressar na universidade. A partir dos movimentos estudantis, me filiei ao PSDB", lembra.
A primeira candidatura, diz ele, foi fruto de discussões em projetos realizados no ambiente acadêmico. Além disso, teve um "exemplo dentro de casa". Filho do deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB), Pedro reconhece que a vontade pela política também veio do pai.
Para ele, no momento em que parte da população está desacreditada na classe política, por conta de "escândalos atrás de escândalos", lançar-se como jovem candidato é escolha que exige ainda mais responsabilidade.
"Preciso estar representando esse anseio de novidade, de renovação, porque a gente tem uma responsabilidade com o futuro da nossa Nação e, principalmente, com as mudanças que a gente quer ver na política brasileira", sustenta, em tom de quem, apesar da idade, já acumula alguma experiência. Neste ano, Pedro Matos, na condição de suplente do partido, assumiu a vaga do vereador Carlos Dutra, que trocou o PSDB pelo Pros, durante uma licença de quatro meses.
Novidade
Para Gabriel Sabóia, filho do vereador Wellington Sabóia (PSC), por outro lado, política ainda é sinônimo de novidade. Ele será candidato a vereador aos 18 anos com o desejo de "seguir os passos" do pai. Por isso, filiou-se à mesma sigla.
"Eu acompanhei meu pai na carreira política, vi ele conversando com a população, ajudando, e isso me motiva, porque quero ajudar a população", afirma, sem esconder a timidez. Gabriel já concluiu o Ensino Médio e quer cursar faculdade de Ciência Política. Há duas semanas, é presidente do PSC Jovem.
Ele destaca que quer trabalhar em prol da juventude, e aposta em um discurso de renovação para conquistar votos. "Está um pouco ruim a política no cenário brasileiro, porque está tendo muita corrupção. Os mais antigos políticos estão roubando muito. Eu sou jovem, quero mudar esse cenário. Quero ser uma pessoa limpa, de boa índole, no cenário político", ressalta.
Segundo Gabriel, uma "nova política" deve passar por mais diálogo entre representantes e população. "É ouvir e ter um diálogo a mais com as pessoas, para você ouvir o que elas precisam na comunidade e desenvolver um trabalho melhor", opina.
Enfrentamento
Já o ator e jornalista Ari Areia, pré-candidato a vereador pelo PSOL aos 25 anos, até pouco tempo atrás não projetava a candidatura, mas a decisão pelo engajamento político não foi feita por acaso ou "veia hereditária". É, segundo ele, resultado de seu percurso de vida.
"A minha proximidade com os movimentos sociais já vinha da minha época de Igreja, em que eu era de grupos de jovens e acabava que tinha um pensamento social bastante engajado, e decidi que ia tomar um lado na questão. Não queria ser alguém que ficasse com aquela sensação de neutralidade. Naquele momento, eu disse: quero fazer esse enfrentamento", conta.
Para ele, apresentar candidatura é propor um rompimento. "Acho que esse discurso de que a política é um lugar caquético, que não tem jeito; um lugar sujo, onde as pessoas não devem colocar as mãos, só contribui com aqueles que a gente combate diariamente, que a gente não acredita mais. É o cara que está lá há cinco mandatos, que já não apresenta nada, que já não tem mais motivação, mas tem o seu curral eleitoral e consegue se colocar. A gente precisa renovar", defende.
E, nesta busca, o ator não quer deixar de ser quem é. Ari relata que já ouviu de amigos próximos que precisa "higienizar" a imagem e o discurso para alcançar mais pessoas na campanha, mas diz que não é desta forma que pretende ir para a disputa. "Vou continuar o que sou, porque devo pensar em mudar a política, e não mudar para a política".
Política diária
Contribuir para mudanças também é o que motiva o advogado e educador político Célio Studart. Com 29 anos recém-completados, ele já contabiliza duas eleições no currículo - foi candidato a vereador em 2012 e a deputado federal em 2014 - e vai para a terceira com pautas que defende no próprio dia a dia; dentre elas, a redução de "privilégios" de políticos.
Célio foi filiado ao PV por cinco anos e, hoje, é presidente municipal do Solidariedade. A motivação para a política, no entanto, é anterior às filiações partidárias. Filho de médicos, não viveu engajamento político em casa, mas o encontrou nos estudos.
Ele não acredita, contudo, que candidaturas jovens signifiquem necessariamente renovação. "O Renato Janine Ribeiro, filósofo, que foi ministro da Educação, fala muito que o discurso do novo é muito genérico e que não é a idade que define por si, e sim a prática", argumenta.
O advogado defende, então, que uma "nova política" também pode ser feita fora da via institucional. "Talvez tão importante quanto a política institucional seja a política não institucional, que tem o seu poder de pressão. Não que uma anule a outra, mas que andem paralelamente".

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