sábado, 26 de novembro de 2016

Juatama vive a incerteza com o fechamento da PBio


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Aos poucos, o lugar vai ganhando ares de abandono. Quase não se vê alguém pelos comércios. As vendas começaram a diminuir, o que eleva o temor de uma crise econômica no distrito
Quixadá. O distrito de Juatama, distante 18 quilômetros da sede deste Município do Sertão Central, foi quem mais saiu beneficiado com a chegada da Usina Petrobras Biocombustível (PBio). Quando a unidade se instalou em Quixadá, a maioria dos beneficiados foi de lá. Os empregos fizeram a localidade, com pouco mais de 400 famílias, crescer; o comércio se movimentar e se desenvolver. Mas, agora que a Petrobras decidiu encerrar as atividades na região, há uma questão pertinente para a qual muitos buscam uma resposta: o que vai ser de Juatama? A incerteza tem atormentado os moradores, que, em geral, não enxergam perspectivas positivas num cenário desolador.
O vilarejo já sente os efeitos do processo de fechamento da usina, que começou no início deste mês de novembro. Os moradores ainda estão por lá, mas a movimentação já é menor. Aos poucos, o lugar vai ganhando ares de abandono. As reuniões de calçada, por exemplo, não são vistas mais com tanta frequência. Quase não se vê alguém pelos comércios. As vendas começaram a diminuir, o que eleva o temor de uma crise econômica no distrito.
Francisco José Sobral, que gerencia com sua mãe a maior mercearia da região, explica que, devido à crise que já assola o País, "o fechamento da Usina causou um impacto grande. Neste mês, nossa venda já caiu mais de 30% e vai cair mais ainda porque era a usina que fazia o distrito se movimentar", diz.
A opinião é compartilhada pela empresária Sandra Janete Sousa. Comerciante há mais de 20 anos em Juatama, ela afirma que passa pela maior dificuldade desde que começou a trabalhar na região. "A situação vai ficar difícil porque muitos deles compravam com a gente. Neste mês eu já comecei a sentir uma diferença. O movimento começou a diminuir", afirma.
Defasagem
O cenário de tristeza e que sinaliza a chegada de uma crise a Juatama, pode ser explicado pelos números do quadro de funcionários da unidade. Dos aproximadamente 120 empregos temporários que a PBio matinha, cerca de 70 eram ocupados por moradores do lugar. Agora desempregados, os ex-funcionários tentam recomeçar, diante de um destino ainda incerto.
"Eu não sei o que vou fazer. Tenho que ver, mas não sei. Não tenho pensado nisso ainda, estou muito preocupado", confessou Carlos Ambrósio Cunha. Após quase dez anos trabalhando na Usina, Carlos disse que se habituou e que ficar desempregado lhe causa "uma sensação ruim". Ir embora de Juatama não está descartado. "Se não aparecer uma solução, é o jeito. Eu vou ficar aqui pra morrer de fome?", se pergunta.
Mesmo quem não trabalha na usina, mas mora em Juatama, se diz assustado com o cenário que começa a se desenhar. "Rapaz, dizem que vai fechar por tanta coisa, mas depois que isso daí parar, o pessoal vai sentir muito. A gente fica até com medo porque pode ser afetado porque as coisas devem ficar mais caras", disse o agricultor Emanuel da Silva Lima.
Contra a decisão
Embora tivesse previsto bem antes que a atual situação pudesse acontecer, o presidente do Sindicato dos Petroleiros do Ceará e Piauí (Sindipetro CE-PI), Oriá Fernandes, é contra o fechamento. "A região perderá muito, os agricultores e o comércio local, principalmente o distrito de Juatama, já que emprega bastante moradores", declarou.
Oriá frisa que o Sindicato dos Petroleiros sempre foi contra o fatiamento e venda da Petrobras. "Inclusive a nossa greve de 2015 teve como umas de suas pautas a manutenção da PBio em Quixadá. Fomos os pioneiros a lutar contra o fechamento da Usina e não paramos de lutar pela permanência. Continuaremos lutando até conseguirmos", declara o presidente.
Situação delicada
O economista e coordenador do curso de economia da Universidade de Fortaleza (Unifor), Núbio Vidal de Negreiros, tem uma opinião parecida com a da população juatamense. "Uma vez que você tem uma empresa que responde pela grande parte da economia de uma localidade, a possibilidade é que haja uma distorção ou uma redução trágica em todo o entorno porque provoca uma ação direta e indiretamente".
O economista explica que, na expectativa de economia, a chegada de uma grande empresa pode gerar comerciantes e empresários, que vão se instalando ou se expandindo na região. Desta maneira, "essa grande empresa funciona como um planeta, criando gravidade e fazendo com que todos os outros corpos celestes (comércio local), que estão próximos, girem em torno dele", exemplifica enfatizando que, "se uma grande empresa como essa fecha, e a maioria mora por lá e perde o emprego, os pequenos comércios perdem a demanda porque sem emprego não vão comprar tanto".
Saída
Mesmo sendo realista diante da situação, o professor acredita que seja possível encontrar solução. O problema, segundo ele, é depositar em uma única empresa todo o retorno econômico de um local. "Os municípios não podem se preocupar exclusivamente com uma economia que é baseada para uma empresa, porque um dia, por qualquer motivo, ela pode fechar ou ir embora e, quando isso acontece, nesta situação, é algo catastrófico".
Uma das alternativas seria reestruturar investimentos que já existem. "Você tem possibilidades, como o Sebrae, que pode dar um apoio na criação de novos empreendimentos ou na reestruturação daqueles que dependiam da biodiesel; um aumento de alguma escola técnica, que pode ajudar a desenvolver uma pequena indústria; enfim, existem muitas saídas. Nenhuma crise é infinita. A economia é cíclica. Vai haver um momento que, a partir dali, vão ser criados novos empreendimentos, que vão trazer novo fôlego para a população e para o comércio", pontua Vidal.

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