sábado, 22 de julho de 2017

Cajucultura espera boa safra para 2017

O incentivo tem sido importante para a produção e o processamento ( Fotos: Marcelino Júnior )
00:00 · 22.07.2017 por Marcelino Júnior - Colaborador
Bela Cruz. É com ar de esperança que José Valdemir de Freitas olha para a plantação de cajueiros, em fase de floração. O produtor, da localidade de Cambota, a cerca de 25Km da sede de Bela Cruz, no Norte do Ceará, aposta no que considera o resultado de uma boa quadra chuvosa para voltar a produzir; diferente dos quatro últimos anos, quando ele chegou a perder cerca de 50% de sua produção, com o avanço da estiagem. A plantação ficou praticamente parada e, apesar, de não recorrer a empréstimos bancários, parte do dinheiro comercializado ainda serviu para saldar contas antigas, além de ter sido reinvestido no plantio de pouco mais de 40 hectares. O que representa algo em torno de 1.600 cajueiros plantados.
Assim como José Valdemir, os outros moradores de Cambota têm no cultivo do caju a maior fonte de renda de suas famílias, onde praticamente toda a mão de obra empregada na agricultura, se volta para o cultivo. Após a colheita, geralmente entre os meses de agosto e setembro, segue para a fábrica, no município de Cruz, a pouco mais de 20Km, que atende aos produtores da região Norte. Na fábrica, são separados a polpa e a castanha, transportadas, em seguida, para a capital, Fortaleza.
Depois da estiagem, que trouxe complicações nas últimas safras, o produtor espera dobrar sua produção neste ano. "Estamos vivendo um ano melhor que os últimos. Espero recuperar os investimentos que ficaram praticamente sem retorno. Tive de manter um certo controle financeiro para não recorrer aos bancos. Acredito que teremos uma boa safra; algo em torno de 40 toneladas", espera o produtor.
A região Norte do Estado, segundo pesquisas da Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará (Secitece), é pródiga nesse tipo de plantio, tendo nos municípios de Bela Cruz, Marco, Cruz, Acaraú e Jijoca de Jericoacoara sua maior representatividade. Com necessidade média de chuva em torno de 600 a 700 milímetros por ano, o que não vinha ocorrendo, o preço da amêndoa (castanha), comercializada em maior volume, se comparada ao pedúnculo (caju), subiu gradativamente.
Quando comparados ao igual período de 2015, os preços recebidos pelos produtores, no ano passado, tiveram acréscimos de 40,50% no Ceará, 36,04% no Piauí e 35,16% no Rio Grande do Norte. A escassez de oferta, provocada pelo longo período de estiagem nos três Estados, responsáveis por quase toda a produção nacional, tem sido observada como um dos fatores para a alavancagem dos preços.
caju
Apesar das dificuldades climáticas, nos últimos anos, o Ceará vem representando quase 50% do total de castanha de caju produzida no Brasil
Produção
Além da escassez de água, a ocorrência de doenças e pragas nos cajueirais tem constado nos estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que, em seu relatório divulgado em janeiro deste ano, fez o fechamento da safra de castanha de caju in natura de 2016. A produção ficou em 79.765 toneladas; quantidade inferior em 38,25% ao valor formalizado no relatório do mês anterior, que apontou produção de 129.178 toneladas. Já em comparação ao volume da safra passada (2015), a redução equivaleu a 22,17%, quando foram colhidas 102.485 toneladas. Esta foi a 12ª e última estimativa de uma série realizada pelo órgão, no decorrer de 2016.
Apesar das dificuldades climáticas, nos últimos anos, o Ceará vem representando quase 50% do total de castanha de caju produzida no Brasil, sendo seguido pelos estados do Rio Grande do Norte (22%) e Piauí (18%), os quais juntos representam cerca de 90% do total produzido no País. Os estados da Bahia, Maranhão e Pernambuco complementam quase a totalidade do restante. Quanto aos municípios, em 2013, os maiores produtores de castanha de caju foram Beberibe e Cascavel, no Ceará, e Macaíba, no Rio Grande Norte. Em relação aos maiores em área colhida temos novamente Beberibe, Bela Cruz e Cascavel (CE); Serra do Mel (RN) e Pio IX, no Piauí.
Dificuldades
"A situação do caju no Ceará é grave. Mesmo assim, temos nos mantido à frente dos maiores produtores no Brasil com cerca de 366 mil hectares de área plantada. Outro problema que enfrentamos, além das poucas chuvas, é a idade avançada de nossas árvores. Algumas com mais de 50 anos de vida. E, apesar da introdução do Cajueiro Anão Precoce (de porte baixo, que pode ser colhido com a mão), há alguns anos, com características bem mais práticas de manejo e cultivo, ainda trabalhamos, na maioria, com o Cajueiro Gigante, que exige maior manejo. Falta, ainda, aos nossos produtores, tecnologia mínima de adubação, além da poda no período correto, que seria logo após a safra, entre janeiro e fevereiro", alertou Maurício Souza Lima, consultor em agronegócio da Secitece.
Incentivo
Entre os programas e projetos oferecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), voltados ao incremento direto ou indireto do setor da cajucultura no Ceará, estão o "Programa de Substituição de Copa", com enxerto melhorado geneticamente; e o Programa Hora de Plantar, com distribuição de mudas de elevado potencial genético. A Secitece mantém um trabalho de transferência de tecnologias, desde 2011, para o processamento de castanhas, na região Norte.
"Já foram distribuídos, pelo Projeto Intercaju, 16 kits de Processamento de Castanha e Unidades de Processamento de Pedúnculo em Itapipoca, Amontada, Cruz, Bela Cruz, além de Marco e Acaraú, ambas em fase de implantação", explicou o consultor da Secitece. Os kits tecnológicos também se encontram em Trairi e Itarema para comunidades que trabalham com doce, polpa de caju e cajuína. Convênios com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE) foram firmados para o incentivo à manutenção do cultivo e comercialização do caju no Estado, por meio de consultorias.
Exportações
Em dezembro de 2016, as exportações de castanha de caju amêndoa totalizaram 1.081 toneladas, sendo inferior em 5,01% ao quantitativo exportado em dezembro do ano anterior, ou seja, 1.138 toneladas. Já no acumulado do ano, foram exportadas 15.588 toneladas, contra 12.957 toneladas do mesmo período em 2015, equivalendo a mais 20,31%.
O maior aumento da demanda pelos Estados Unidos, Canadá e Países Baixos continuou sendo o principal motivo. Uma das preocupações do setor industrial é com a pouca oferta da castanha, com as produções pequenas nos últimos anos, que não têm atendido a demanda do mercado externo.
Esse levantamento foi feito pelo técnico de planejamento e analista de mercado Marden Teixeirense, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo a suas informações, "as castanhas destinadas às indústrias ainda são de baixa classificação, dificultando a garantia de qualidade da amêndoa dos contratos firmados no exterior, o que tem fortalecido a concorrência internacional. Dessa forma, para suprir a necessidade das indústrias nacionais, o meio encontrado tem sido as importações de castanha de caju dos países africanos".

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