sábado, 1 de julho de 2017

Pescadores reclamam do preço da lagosta pós-defeso

Icapuí é conhecida pela produção lagosteira e a Praia de Redonda é a mais tradicional ( Fotos: Ellen Freitas )
00:00 · 01.07.2017 por Ellen Freitas - Colaboradora
O quilo da lagosta sai atualmente da colônia a um preço médio de R$ 30, quando em igual período do ano passado, chegava a custar R$42, queixam-se os pescadores
Icapuí. Um mês após o fim do período do defeso da lagosta, pescadores da Praia de Redonda, neste município, divergem sobre as expectativas de captura até o fim dessa temporada. Enquanto alguns se conformam com a queda, outros conseguem manter esperança de que, até o fim do ano, possa melhorar.
O consenso desanimador é o preço do quilo do crustáceo neste ano, que chega a uma desvalorização de, no mínimo, R$10 para o pescador, uma queda quase de 30% em comparação ao ano passado. O quilo da lagosta sai hoje da colônia a um preço médio de R$ 30, quando em igual período do ano passado, chegava a custar R$42.
Redução do povoamento
Juntamente com a queda de preço, eles relacionam como problema a diminuição do povoamento da lagosta na região, que, segundo os pescadores, vem caindo nos últimos anos. "Quando a pesca está boa, a gente vai para o mar todo dia. Quando está ruim, vai dia sim, dia não", conta o pescador José Cosmo da Silva, que tem lamentado temporada ruim deste ano.
A constatação do pescador é dada pelo volume que ele consegue capturar no primeiro mês pós defeso, que costuma ser o melhor depois dos seis meses em que a captura é proibida por lei. "Hoje, no dia que eu vou para o mar, eu pego dois, três quilos. No ano passado, pegava cinco, sete, o que já não era muito bom para a época", lamenta Cosmo, que ressalta que a tendência até o fim da liberação é diminuir ainda mais o volume capturado.
Já o pescador Jovenildo da Silva, o Neguinho, como é conhecido em Redonda, prefere manter o otimismo e torcer para que, ao invés de diminuir, o volume de captura aumente até o fim da temporada. "Tô saindo de três em três dias, a gente pega oito, nove quilos. Neste mês de julho que vai entrar, é ruim de lagosta, a maré fica pequena. Daí começa a melhorar em agosto, setembro. Eu espero que melhore nessa época", estimou.
O presidente do Sindicato dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Icapuí, Tobias Soares, afirma que a situação da lagosta no Município tem sido vista com preocupação pelos pescadores. De acordo com levantamento feito pelo Sindicato, que acompanha a atividade em Icapuí desde o ano passado, em 2016 foram capturadas 600 toneladas de lagosta e o destino de 90% do produto, segundo Soares, foi o mercado externo.
Redonda aparece em terceiro lugar, no Município, com a captura de 56 toneladas, seguindo as comunidades de Tremembé (200 toneladas) e Barra Grande (240 toneladas). "Ainda é cedo para dizer se vai melhorar ou piorar, mas, pelo que estamos calculando e comparando, a gente espera que essa temporada fique na mesma média do ano passado", afirmou Soares.
Em meados deste mês, o governador Camilo Santana assinou um decreto que regulamenta a legislação do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na comercialização de lagosta no Ceará e irá beneficiar diretamente a indústria. A mudança deixa o Estado competitivo na venda do crustáceo, equiparando-se a outros estados do Nordeste.
A nova alíquota de saída do produto será de 12%, não mais 1,7%. No entanto, o produtores cearenses continuarão pagando internamente a alíquota anterior. A medida supera a desvantagem econômica do Ceará frente a outros estados e tem como objetivo estimular novos negócios e gerar empregos no Estado do Ceará. Mesmo com essa desvantagem que havia até então, o Ceará se mantinha como maior produtor e exportador de lagosta do País.
Para os pescadores, essa medida não deve impactar de imediato no preço que é vendido nas colônias. "O que pode mudar para nós é que possamos ter como brigar com os empresários a questão do melhor preço, mas isso a gente só vai poder ver futuramente. Agora, no setor como um todo, as indústrias é que mais se beneficiaram com essas medidas, mas, para o pescador em si, nem piorou nem também melhorou de imediato", afirma Soares.
Desvalorização
Sobre a desvalorização do preço do crustáceo, ele atribui a diminuição da compra pelo mercado externo, principalmente o americano e o europeu. "Neste ano teve uma compra menor do mercado americano do nosso produto. A temporada de pesca lá abre primeiro que a nossa, então eles têm produto. Então tem mais oferta e o preço baixa", explicou.
O município de Icapuí se localiza no extremo Litoral Leste do Estado do Ceará, na divisa com o Estado do Rio Grande do Norte. A cidade é conhecido pela produção lagosteira e a Praia de Redonda é a comunidade mais tradicional na atividade, reconhecida pela captura lagosta de forma artesanal. Apenas nesta localidade, são 529 pescadores. Ao todo, no Município de Icapuí possui 1.554 pescadores.
Enquete
Qual a perspectiva da captura?
"O primeiro mês depois do defeso sempre é melhor. A gente captura mais porque vem do período que está parado, mas esse não foi. Estou pegando menos e, até o fim da pesca, a tendência é diminuir"
Jovenildo da Silva (Neguinho)
Pescador
"Até agora não está ruim. Estou pegando uma média de nove, dez quilos. Julho que entra é ruim pra lagosta. Mas, em agosto e setembro, já dá uma melhorada. É ter fé pra que fique bom para frente"
José Cosmo da Silva
Pescador
"Ainda é cedo para dizer se essa temporada será boa para a lagosta. Não dá para dizer se vai diminuir ou aumentar. Mas o que a gente está observando, por este primeiro mês, é que deve ficar na média do ano passado"
Tobias Soares
Pres. Do Sind. Dos Pesc. Artesanais de Icapuí

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