terça-feira, 18 de julho de 2017

Siglas tentam aproximar filiados em meio à crise




Em meio a uma crise de representatividade que atinge a credibilidade de partidos políticos, dirigentes das maiores siglas partidárias do Ceará têm dito que o momento é de buscar atrair novos quadros, apesar do distanciamento resultante de sucessivos escândalos de corrupção que fragilizam as agremiações, e fortalecer a participação e a democracia interna considerando os atuais filiados que, embora associados a determinadas siglas, não têm participado de discussões e tomadas de decisões dentro das legendas. São estratégias que, segundo eles, vão além de interesses eleitorais.
De acordo com registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os dez partidos com maiores números de eleitores filiados em território cearense são PT, PSDB, PMDB, PP, PTB, PDT, DEM, PPS, PSB e PR. O Diário do Nordeste buscou dirigentes dos cinco maiores para conversar sobre a relação das direções partidárias com os filiados e a participação destes em questões de interesse das respectivas legendas. A sigla petista tem, atualmente, 79,9 mil filiados no Ceará, seguida pelos tucanos, que são 57,6 mil. O número de filiados peemedebistas é de 48,1 mil, enquanto PP e PTB têm 37,3 mil e 34,7 mil eleitores filiados, respectivamente.
Na outra ponta da lista de 35 partidos com registro na Justiça Eleitoral, PCO, com apenas 14 filiados no Estado, NOVO, com 164, e PCB, com 353, são os grêmios com menores quantitativos de eleitores associados. Completam a relação das legendas partidárias mais reduzidas em termos de filiações no território cearense a REDE, que soma 796 filiados, e o PSTU, que possui 2,1 mil. Segundo dados do TSE referentes ao último mês de junho, o Ceará tem, hoje, 6,3 milhões de eleitores, dos quais 545,5 mil são filiados a algum partido.
Participação
Não são todos estes, porém, que têm, de fato, vida partidária. Ainda que o argumento de que é preciso "reencantar a militância" venha sendo propagado em discursos de diversos petistas desde a campanha eleitoral de 2016, o presidente do PT em Fortaleza, vereador Acrísio Sena, informou em entrevista recente ao Diário do Nordeste que, do total de 20 mil filiados ao partido na Capital, pouco mais de 3 mil participaram da eleição interna que definiu o atual diretório municipal da sigla no último mês de maio. Em outras 16 legendas que não possuem diretórios estaduais instituídos no Ceará, mas apenas comissões provisórias, não há sequer processo eleitoral para escolha de dirigentes que dê direito de voto aos respectivos filiados.
Presidente estadual do PT, Francisco de Assis Diniz reconhece que, como dirigente, "falar para atingir as pessoas" é desafio. Exemplo disso, cita ele, foi a convocação da última greve geral contra as reformas trabalhista e previdenciária, que, embora representasse pautas que atingem diretamente "o cotidiano dos trabalhadores", não teve, nas palavras dele, "a dimensão que deveria ter".
"Há uma dificuldade muito grande, porque as pessoas passam a incorporar um conceito metodológico sobre sua vida e sobre seu partido que, na grande maioria, é uma linguagem que não é compreensível e, muitas vezes, não está falando aos interesses imediatos do conjunto. Se você identifica pontualmente esse distanciamento, é porque a direção do partido não fala sobre as questões que são de interesse imediato daquele trabalhador", diz. "Isso é da sociedade brasileira, não é só do PT, porque tem seus canais de diálogo, a sua estrutura de relacionamento com os filiados, mas o partido não consegue ter interlocução para o conjunto da classe", avalia.
Mobilizar
Apesar disso, ele ressalta que o PT tem olhado com atenção para questões mobilizadoras que tragam os filiados para o conjunto do partido. São atividades de bairros, atividades de núcleos e organização setorial que, de acordo com o dirigente, envolve movimentos sociais, sindicais, de juventude, de mulheres e outros grupos sociais. "O partido tem que ter um sentido valorativo da relação da sociedade com as suas políticas, e é exatamente esse o elemento que organiza e mobiliza a nossa base social".
Para além das "lutas" contra as reformas propostas pelo governo Temer, ele destaca que o partido realiza desde o ano passado debates, plenárias e seminários que permitam a participação dos filiados, além dos atos políticos que têm marcado a posse dos novos diretórios municipais no Ceará. Nos últimos dias 13 e 14, um foi realizado na Região Centro-Sul e outro na Região dos Inhamuns. Ao contrário de Acrísio, que defende a realização de uma campanha de novas filiações ao PT, entretanto, De Assis Diniz considera que o mais importante no momento é fazer uma atualização cadastral dos que já fazem parte da sigla.
"Temos 25 mil (filiados na Capital), dos quais 20 mil têm cadastro e votaram 3.600, o que dá demonstração de que o problema não é filiar, é acompanhar, estar presente, participar", diz o presidente do PT no Ceará.
Tucanos
Diferentemente do dirigente petista, o presidente estadual do PSDB, Luiz Pontes, aponta que o partido tem buscado novas filiações ao passo em que volta as atenções também a ouvir os filiados sobre "deficiências e carências" da legenda, visando a preparação de uma boa chapa para as eleições de 2018. "Nós tivemos uma mobilização muito grande nas eleições municipais, tanto é que, no Ceará, pelo número de votos alcançados nas eleições anteriores, tínhamos mais comissões provisórias e só cinco diretórios municipais. Nessa eleição de 2016, o partido pulou para 65 diretórios municipais, então mostra que teve um bom desempenho", salienta.
O dirigente explica que, a partir de resolução interna, o partido exige um percentual mínimo de votos por município para que as comissões provisórias tornem-se diretórios. O aumento destes últimos, segundo Luiz Pontes, contribui para uma maior participação dos filiados em questões da sigla. "Comissão provisória não tem direito a voto na convenção estadual, nem na nacional, tem cinco membros só, é uma coisa mais simples. Já o diretório é executiva, tem várias funções e modos de participar", aponta. De acordo com o tucano, em 2017, o PSDB busca movimentações internas "com novas filiações" e reuniões em Fortaleza e no Interior do Estado.
Frequência
Para mobilizar filiados, encontros regionais também têm sido prioridade no PMDB cearense, segundo Gaudêncio Lucena, vice-presidente estadual da legenda. No primeiro semestre, contabiliza ele, foram três encontros: um em Fortaleza, outro em Limoeiro do Norte e um terceiro na Região do Cariri. "Este ano, realizamos apenas três encontros regionais. Deveria ter sido realizado um outro e, provavelmente, isso se dará agora no mês de julho, mas esse momento político nacional tem prendido a atenção e a presença do presidente estadual do partido em Brasília (o presidente do Senado, senador Eunício Oliveira), o que fez com que houvesse um atraso nessa programação".
Gaudêncio afirma que, com a proximidade das eleições de 2018, a expectativa é de que haja um encontro regional por mês ao longo do segundo semestre. Ele pondera, contudo, que os eventos não têm apenas intenção eleitoral. "São a oportunidade onde a gente tem relacionamento mais próximo com os nossos prefeitos, vice-prefeitos, lideranças, filiados, pessoas que têm uma simpatia pelo partido, então fazemos esses encontros em todas as regiões do Estado e, com isso, a gente consegue fazer uma aproximação", sustenta.
O peemedebista reconhece, porém, que é difícil ter, nos encontros, presença "maciça" de filiados. "Reunir duas, três mil pessoas é muito significativo. Poucos são os partidos que conseguem uma presença maciça nos encontros regionais", coloca. Embora os encontros sirvam, também, para atrair novas filiações, Gaudêncio Lucena observa que o quadro de falta de credibilidade de partidos políticos tem dificultado no PMDB, do presidente Michel Temer, a adesão e a formação de novas lideranças.
Desestímulo
"Evidentemente, essa turbulência política no Brasil faz com que alguns fiquem desestimulados da política, mas é exatamente nesse momento que nós temos que apresentar para a juventude um modo diferente do que alguns pregam. Devemos incentivar a participação política, o ingresso de novas pessoas no partido, para que a gente possa injetar um sangue novo no partido e tenha, logo num futuro muito próximo, lideranças políticas com outro pensamento", diz.
Discurso semelhante é adotado por Luiz Pontes, do PSDB, partido que, assim como o PMDB e o PT, tem nomes envolvidos em escândalos de corrupção. "Essa política deixa a pessoa muito frustrada de se envolver. A gente tem que trazer as pessoas boas para dentro para conter essas pessoas que não têm o compromisso da ética".
O petista Francisco de Assis Diniz, por sua vez, ressalta que "todo e qualquer partido que imagine longevidade tem que ter inserção social e capacidade de renovar e reciclar as suas lideranças". Um caminho para isso no PT, destaca ele, é que, por resolução do partido, 20% dos cargos de direção da legenda são, atualmente, ocupados por jovens filiados. A reportagem entrou em contato com os presidentes do PP, Antônio José, e do PTB, Arnon Bezerra, mas as ligações não foram atendidas até o fechamento desta matéria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário