sábado, 5 de agosto de 2017

ONG faz oficinas sobre Semiárido para professores

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Entre os temas que devem ser abordados nas oficinais estão água, sementes, identidade, gênero, processos de produção agrícola e ecossistema. A formação deve envolver toda a comunidade escolar ( Foto: Eduardo Queiroz )
Fortaleza. A ONG We World Brasil realiza, ao longo deste mês de agosto, uma série de encontros com professores de Ensino Fundamental e Médio para discutir maneiras de contextualizar os conhecimentos transmitidos dentro das salas de aula com o Semiárido que circunda as escolas. "É um trabalho em que a escola mergulha na sua realidade", explica Rosângelo Marcelino, coordenador do projeto.
De acordo com o líder da iniciativa, batizada de "Projeto Contexto: Educação, Gênero, Emancipação", a ideia é formar, até o fim do mês, cerca de mil educadores dos ensinos Fundamental e Médio. Ele afirma que a proposta do projeto é que os temas debatidos perpassem todas as disciplinas. "Na Geometria, eu posso tratar dos canteiros de cebola da dona de casa, a área do cilindro da cisterna. Em português, eu posso iniciar um trabalho de valorização da cultura popular", exemplifica. Para Marcelino, dessa maneira, as disciplinas "deixam de ser abstratas" e passam a relacionar-se de maneira mais próxima com a realidade do estudante. "Ele vai estabelecendo um outro significado com aquele conteúdo", afirma.
Entre os temas que devem ser abordados nas oficinais estão água, sementes, identidade, gênero, processos de produção agrícola e ecossistema. A formação deve envolver toda a comunidade escolar, desde educadores e profissionais responsáveis pela merenda escolar a técnicos das secretarias de Educação municipais. O projeto prevê, ainda, um acompanhamento pedagógico, onde os professores devem receber sugestões sobre como implementar os temas trabalhados na disciplina dentro da sala de aula. Ainda está previsto que, ao fim de cada semestre, os alunos exponham em trabalhos aquilo que aprenderam nos seis meses anteriores. A ONG avalia que isso demonstra "a importância de aproximar alunos, professores e familiares de assuntos que são essenciais para toda a comunidade local". O coordenador revelou entusiasmo com a receptividades das secretarias municipais de Educação. "Estamos trazendo uma formação voltada para as pessoas, para valorização deste bioma tão rico que é a Caatinga, e a forma como estamos sendo recebidos pelas secretarias de Educação dos municípios deixa-me muito otimista com os resultados que o projeto pode alcançar", disse.
Além da We World Brasil, participam, como realizadores do projeto organizações como Cáritas Diocesana de Crateús, Instituto Maria da Penha, Associação de Cooperação Agrícola do Ceará (Acace), Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), Associação de Escola Família Agrícola Dom Fragoso (EFA) e a Pastoral do Menor. O projeto conta ainda com financiamento da União Europeia (UE).
Até o momento, já foram realizadas três oficinais, englobando os municípios de Quixeramobim, Mombaça, Pinheiro, Milhã e Senador Pompeu, todas no Sertão Central. Hoje, será a vez de Madalena, Boa Viagem e Piquet Carneiro.
A iniciativa de uma educação contextualizada não é inédita no Estado. Segundo Marcelino, os municípios de Tamboril, Quiterianópolis e Nova Russas já universalizaram a prática em toda a sua rede de ensino. Outras 17 cidades já teriam adotado a iniciativa em menor escala. Segundo o coordenador, os experimentos teriam tido bons resultados nas notas dos alunos.
O coordenador afirma que a intenção não é retirar o conhecimento de um contexto macro, mas chegar a ele. "É uma coisa que não anula o contexto global. Você parte do local onde você está e vai para o mundo", explica. "A ideia não é que se isole o conhecimento universal, mas que se valorize a partir do chão que se pisa", complementa.
Os docentes que participam das oficinas elogiam-nas. É o caso de Joel Cavalcante, professor de Ciências e Religião para o Ensino Fundamental em Açudinho, distrito de Mombaça. "Estamos achando espetacular a questão da contextualização", afirma. Para ele, a iniciativa é capaz de tornar a comunidade "consciente dos seus valores" e também tem a capacidade de despertar, com mais intensidade, o interesse dos alunos. "Quando nós ensinamos algo que está distante deles, eles ficam mais desatentos e desinteressado. Com a contextualização, tornam-se mais atuantes, mais ativos", explica. O professor destaca que, para a criança, o conhecimento deixa de ser algo abstrato e passa a ser parte do seu cotidiano. "Eles não estão trabalhando com algo como a vegetação do Mato Grosso ou da Mata Atlântica", exemplifica.
O educador afirma que, com o modelo de contextualização, crianças passam a comportar-se como multiplicadoras do conhecimento que adquirem na escola. "Ele mesma vai repassando para a comunidade aquilo que antes não sabia. E, assim, o conhecimento vai multiplicando-se", aponta. Cavalcante disse que já planeja, ao retornar à sala de aula, realizar uma aula de campo com os alunos "para que a gente tenha uma consciência maior da nossa riqueza e de como preservá-la".

Saiba mais

Próximas oficinas
"Projeto Contexto: Educação, Gênero, Emancipação"
Hoje - Madalena, Boa Viagem e Piquet Carneiro
8 e 9 - Ipaporanga
8 a 10 - Tamboril
11 - Solonópole
17 - Pedra Branca
18 - Poranga, Ararendá e Ipueiras
22 e 23 - Quiterianópolis
24 - Tauá, Novo Oriente e Nova Russas
25 - Crateús
Fonte: We World Onlus

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