quarta-feira, 20 de junho de 2018

Caatinga cobre 88% do Ceará, mas carece de preservação

(FOTO: CID BARBOSA)
Uma mão com dedos de madeira se estende para o céu como se implorasse por chuva, depois de meses sem sentir o frescor de uma gota d'água. Ao lado dela, outra. E mais outra, numa procissão estática de suplicantes. As imagens compartilhadas na memória popular sobre a Caatinga tendem a lembrá-la pela escassez ou pelo que está em falta, mas, em meio a tantos galhos secos e espinhos pontiagudos, há grandes potencialidades encobertas pelo véu de prejulgamentos no bioma que cobre quase 88% de toda a cobertura vegetal do Estado, conforme o Inventário Florestal Nacional do Ceará (IFN-CE).

Dos 8,5 milhões de hectares de florestas que cobrem o território do Estado, em 7,4 milhões predomina a chamada vegetação de savana-estépica, termo botânico para o ambiente de moradia do sertanejo. Contudo, o bioma se encontra ameaçado tanto pelas mudanças climáticas como, principalmente, pela ação antrópica, como aponta a climatologista do Laboratório de Mudança Climática do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Francis Lacerda.

"Segundo a literatura, 40% da Caatinga já está em processo de degradação, mas tenho a intuição que esse percentual deve ser bem maior. Há uma degradação do bioma em ritmo muito acelerado pela queima da lenha para uso energético e do desmatamento para pasto, bovinocultura e agricultura", descreve, afirmando que os prejuízos atingem ainda o solo, a biodiversidade, os recursos hídricos e o próprio clima da região.

É preciso, então, "recaatingar": um neologismo criado para lidar com um velho problema. Reflorestar o bioma com plantas nativas, naturalmente adaptadas para a aridez, defende a também coordenadora da rede Ecolume, ajudam na retenção da água no solo e, consequentemente, a recarregar os aquíferos. Assim nasceu a expressão "plantar água", pois a revegetação auxilia também a regular o clima e a trazer maior conforto térmico.        Fonte: Diário do Nordeste

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