terça-feira, 28 de janeiro de 2014

COLUNA DONIZETE ARRUDA



Motivações do delator
Trechos do depoimento do vereador Hélder França (Guer) prestados ao promotor de Justiça Lucas Azevedo e que ainda estão sob segredo são re- veladores de um esquema profissional de corrupção instalado na Câmara do Crato para beneficiar um grupo de parlamentares envolvidos na prática de diversos crimes. Só agora, começam a ser conhecidos mais detalhes da delação premiada de Guer. Ao depor, ele justificou suas atitudes inconve- nientes aos interesses públicos como uma missão em nome de sua lealdade ao ex-prefeito Samuel Araripe. Daí, pode-se concluir que seu envolvimento nesse esquema teria ocorrido para garantir o controle da Câmara do Crato pela oposição ao prefeito Ronaldo Matos.
Detalhes do esquema
ao entregar o modus operandi, Guer delatou seus “companheiros” ao Minis- tério Público. Relatou todo o sistema de atuação do grupo de vereadores, que se autointitulou G10, na Câmara do Crato. Um dos vereadores que se recusou a entrar no negócio, confessou à coluna: "Fui convidado a participar do G10, mas ao identificar que objetivo deles tinha como base a extorsão e a pressão por métodos não republicanos ao prefeito Ronaldo Matos para ob- ter dividendos a qualquer custo, pulei fora". Isso não era política”. Guer teria sido o último a se integrar oficialmente ao grupo, que seria formado ainda, pelos vereadores: Pedro Alagoano, Nando Bezerra, Luciano Saraiva, Celso dos Frangos, Dárcio Luiz, Marquinhos do Povão, Nagela, Expedito Anselmo e galego da Batateira.
DINHEIRO ARRECADADO
A atuação do G10 já teria rendido o montante de R$ 1 milhão. Dinheiro obtido com “ pedágio” pago por empresários na aprovação da doação de terrenos. A Prefeitura do Crato doava o terreno sem cobrar nada, mas o G10 avisava que a matéria só seria chancelada em troca de vantagens. A negociação era direta entre o G10 e os empresários.
Conflito interno no G10
Guer teria procurado o grupo de vereadores para negociar a aprovação das contas de Samuel Araripe. Recebeu um proposta e levou a Samuel. O ex-prefeito não aceitou o valor negociado e rejeitou os métodos do G10. Instalou-se a crise dentro do grupo. Somente Guer, mesmo sem vanta- gens, votou pela aprovação. O restante se dividiu em dois sub-grupos: alto e baixo clero. Os caciques do G10 eram liderados por dois vereadores que teriam gravações em seu poder, onde os demais apareceriam re- cebendo dinheiro e deixando claro, em cada recebimento, dos recursos embolsados e a origem deles. Esse material foi a garantia para manter a fidelidade de todos no G10, exceção a Guer, que não aceitou ficar contra Samuel.

Regras impostas pelo medo
O clube G10 tinha regras claras, quem as desobedecia era obrigado a de- volver o que recebera ao longo do tempo e ainda perdia a proteção. O grupo foi formado no final de junho de 2013 e sua atuação é de inteiro conhecimento da Justiça do Ceará. Ao se recusarem a aprovar as contas de Samuel na base da amizade, Guer se rebelou contra os velhos aliados de práticas condenáveis.
Pensando no futuro
Certo de que a Justiça do Ceará irá afastar os vereadores envolvidos na denúncia, Samuel Araripe tem feito incursões ao Crato, pois é candida- to a deputado estadual e quer manter sua influência política na cida- de. Nesta terça-feira, conversará com os suplentes de vereadores, que assumirão a Câmara, caso se confirme o afastamento dos titulares. Em seguida, Samuel articulará o passo seguinte: o afastamento do prefei- to Ronaldo Matos, mesmo que ele, até agora, esteja isento de qualquer acusação ou participação nesse grupo G10. Com Ronaldo fora do cargo, assumiria o vice-prefeito Raimundo Filho. Samuel já conseguiu cooptar seis suplentes dos dez que podem assumir o mandato na Câmara do Crato. Raimundo Filho, que estava pré-candidato a deputado estadual, retirou a candidatura e vai apoiar Samuel.
Promotor já sabe de tudo
Com base no depoimento dado por Guer, o promotor Lucas Azevedo, solicitou um mandato de busca e apreensão com o intuito de recolher as gravações existentes em poder do G10, que são usadas para intimi- dações e garantia de fidelidade. Novas diligências vão ser feitas. O foco da crise: o confronto do G10 com Samuel implodiu a Câmara do Crato. O MP cearense solicitou a quebra de sigilo bancário e telefônico de todos os implicados. Guer, após o ter seu depoimento vazado, recolheu-se e teme por sua vida. 

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