quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O difícil equilíbrio de Marina

FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR
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Marina Silva (PSB/Rede) é a grande novidade destas eleições. A candidata, que assumiu a disputa à presidência da República após o falecimento de Eduardo Campos, apresenta-se como a “única” capaz de realizar a “nova política” e estreou nas pesquisas eleitorais com boas intenções de voto, superando até mesmo a presidente Dilma Rousseff (PT) em eventual segundo turno, de acordo com a última pesquisa Datafolha.

Para David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), Marina já entra na disputa “com um pé no segundo turno”. “A pesquisa mostra que ela absorve os eleitores indecisos e possui o menor índice de rejeição”.

Alguns desafios, entretanto, se impõem a ela: como conciliar a necessidade de palanques eleitorais nos estados com suas discordâncias em relação a algumas alianças realizadas por Eduardo Campos? Como contemplar sua posição crítica em relação ao agronegócio com o seu candidato a vice-presidente, que possui vínculos com o setor? Será possível ela incorporar ao seu perfil de lutadora ideológica uma imagem de administradora eficiente?

Para Rejane Vasconcelos, professora e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a decisão do PSB de manter as alianças realizadas por Campos, porém sem obrigar Marina a comparecer aos palanques de cujas alianças ela discorda, não prejudica a campanha da ex-ministra. “Ela não pode se alinhar com o que ela chama de ‘velha política’, já que ela se apresenta como a candidata da mudança”.

Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP), discorda da professora. Ele entende que a ausência de Marina nesses palanques simbolizaria “desprezo” por parte dela, o que geraria falta de apoios à sua candidatura nesses estados “desprezados”.

Agronegócio
Em relação ao vice da chapa, David Fleischer avalia que a preocupação de Marina não será “acalmar o empresariado”, mas o agronegócio, já que ela tem um perfil “mais liberal” do que Dilma, vista como “estatista” pelo setor privado. 

“Os eleitores de Marina votam nela independentemente de seu vice, mas o agronegócio não. O setor precisa de uma garantia e o vice dela cumpre o papel de acalmar o setor da mesma forma que José Alencar (PRB) serviu para acalmar o empresariado na época da candidatura de Lula (PT)”, analisa Manhanelli.

Pragmatismo
Outro desafio de Marina será conciliar sua imagem de idealista com a de administradora, o que a diferencia de Eduardo Campos, que tinha uma imagem de administrador conciliador em Pernambuco. 

Para Manhanelli, o fato de Marina ter aceitado um vice ligado ao agronegócio já sinaliza que a ex-senadora está disposta a ser mais flexível. “Não se faz um presidente no Brasil sem juntar forças. Se ela quiser ganhar as eleições, terá que assumir uma posição mais pragmática”.

“Quanto mais sua candidatura tornar-se competitiva, mais ela será intimada a falar sobre seu eventual governo e suas posições em relação ao agronegócio, à sua agenda moral religiosa e à sua ausência de imagem como administradora”, conclui Rejane.

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