quarta-feira, 28 de janeiro de 2015


CRISE HÍDRICA

Famílias aguardam por cisternas de polietileno há quase dois anos

28.01.2015

Sem o equipamento, os agricultores são obrigados a adquirir água para beber por um custo elevado

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Muitos agricultores cavaram buracos nas suas propriedades e não receberam sua cisterna
FOTOS: ANTONIO C. ALVES
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Enquanto muitas famílias clamam por água potável, os equipamentos adquiridos pelo Governo Federal, através do Programa Água para Todos, permanecem à espera da instalação em meio ao matagal
Canindé Famílias de comunidades rurais neste Município, localizado no agreste cearense, que não possuem acesso à água, denunciam que esperam há quase dois anos pelas cisternas de polietileno do programa Água Para Todos. Eles se cadastraram no programa em 2012, mas até agora não foram contemplados com os aparelhos hídricos. O programa foi lançado, em Canindé, no dia 14 de fevereiro de 2013, onde foram liberadas na primeira etapa 2.057 reservatórios com capacidade de 16 mil litros para 127 comunidades.
Os próprios agricultores cavaram os buracos para a instalação dos benefícios, mas até agora os equipamentos não chegaram. Sem a cisterna, os moradores são obrigados a comprar água para beber, porque o que vem nos carros pipa só serve para afazeres domésticos.
Os beneficiários do programa devem ser famílias que residam em áreas rurais, vivam em situação de extrema pobreza, recebam uma renda per capita de até R$ 140, tenham carência de acesso à água e estejam inscritas no cadastro único de programas sociais do Governo Federal.
No povoado de Barra do Curu, no 'Vale do Ubiraçu, a situação é de tristeza. Foram cavados os buracos, as cisternas enterradas e até agora não foram colocadas as calhas para captação de água, por conta da morosidade da empresa responsável.
Sobrevivendo em meio à pior seca no Nordeste dos últimos 60 anos, a agricultora Maria do Carmo não consegue entender o motivo de várias cisternas, que poderiam mudar a realidade de muitas famílias, estarem desativadas desde fevereiro de 2013. "É uma verdadeira tortura ver todos os dias essa cisterna sem nenhuma utilidade", lamenta a agricultora.
Outro que sofre com o problema é Antonio Braga de Mesquita. Ele não tem direito a receber os serviços do carro-pipa, pois ganhou uma cisterna do programa, mas está na mesma situação de Maria do Carmo. O equipamento foi enterrado no chão, mas se encontra sem serventia.
"O homem que veio deixar essa cisterna ainda cobrou foi uma galinha do meu quintal. Minha esposa deu, porque nós estávamos precisando'', diz Antônio Braga. Em Poço da Pedra, o beneficiário José Curdulino Filho falou que em uma reunião ''Júnior Mourão'' responsável pela instalação das cisternas de polietileno disse que a comunidade poderia cavar o buraco da obra que depois a empresa A & C Construções pagaria os R$ 350,00. "Eu paguei cinco dias de serviço e nunca recebi esse dinheiro'', afirma José Curdulino.
Na Comunidade de Minador, os moradores foram beneficiados com seis cisternas. Apenas os buracos foram cavados. Há quase dois anos os equipamentos são esperados.
Júnior Mourão, que responde pela instalação do sistema em Canindé, disse que a empresa já recebeu em Canindé 1.879 aparelhos e desse total foram distribuídos no campo 1.874. Faltam apenas 178. "Já concluímos 1.821 e a Fundação Nacional de Saúde mediu 1.593. No campo para montar são apenas 39 e, em andamento temos 11. Cinco se encontram no Parque de Exposição Francisco Diassis Bessa Xavier para serem trocadas'', explicou Júnior através de um documento datado do dia 27 de janeiro de 2015.
Quanto às denuncias feitas pelo morador Antônio Braga, ele se limitou a dizer que não comentaria os fatos. "É preciso que as pessoas venham denunciar.
Se todas as cisternas tivessem instaladas corretamente, os sertanejos teriam água suficiente para atender uma família de seis pessoas, porque em 2013 segundo o pluviômetro instalado no Departamento de Obras Contra as Secas (Dnocs) choveu 220.9 mm. Em 2014, as precipitações atingiram 228.8.
"Chove todo ano no Semi árido. Se não chovesse, não seria semi. Mesmo na pior das secas, mesmo nos lugarejos mais esquecidos, a quantidade anual de chuvas não fica abaixo de 200 milímetros. A média se refere à altura da coluna de água que se acumula em um recipiente. É pouco. Mas é suficiente para dar água de qualidade a uma família de cinco pessoas por um ano. Basta arrumar um jeito de coletar esse líquido antes que ele suma no chão. E o jeito mais simples é instalando calhas dos dois lados do telhado para conduzi-lo para um reservatório onde ele ficará protegido dos parasitas e da evaporação que chega a dois mil milímetros nos Sertões de Canindé'', garante o especialista em água José do Egito, do Comitê de Bacias do Vale do Curu.
Água para Todos
Segundo ele, a água que se acumula dá para uma família beber e cozinhar por um ano. Nos anos de seca, ela deve ser usada só para beber. As cisternas feitas de polietileno foram adquiridas pelo Ministério da Integração Nacional como parte da ação do Programa Água para Todos a fim de atender as famílias da Região Nordeste.
O primeiro lote de 60 mil aparelhos foi comprado em novembro de 2011 por R$ 210 milhões. No início, o Governo Federal alegou que, apesar de mais caras, as cisternas de polietileno são mais duráveis, resistentes e, principalmente, mais rápidas de ser instaladas, tendo em vista a urgência das famílias que enfrentam a seca. O Ministério da Integração Nacional optou em adotar essa nova tecnologia. O problema é que a "rapidez"' prometida não saiu do papel em alguns locais dos Sertões de Canindé.
Antonio Carlos Alves
Colaborador

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