segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015


SAÚDE

Hospital Psiquiátrico do Crato ameaça encerrar as atividades


Falta de repasses de verbas e crescimento da dívida têm inviabilizado o funcionamento da Casa de Saúde Mental

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Criada há cerca de 45 anos, a Casa de Saúde Santa Tereza mantém atendimento mensal a cerca de 200 pacientes. A maioria das pessoas internadas para tratamento na unidade é oriunda de municípios do Estado
FOTOS: ROBERTO CRISPIM
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Com uma média de 200 atendimentos mensais e com atraso dos recursos, pagamento de funcionários, fornecedores e obrigações sociais, o dinheiro pago atualmente não é suficiente para reformas necessárias na parte física
Crato. Mais uma unidade hospitalar ameaça encerrar suas atividades por falta de condições financeiras para manutenção de atendimentos a pacientes neste município. A Casa de Saúde Santa Tereza, único equipamento existente no setor psiquiátrico em todo o Interior do Ceará, contabiliza prejuízos devido à falta de reajuste dos valores repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelos constantes atrasos que acontecem durante o processo de liberação dos recursos. Conforme a direção da unidade, há cerca de oito anos não há reajuste no valor das diárias pagas pelo SUS, que continua sendo de R$ 42.
Criada há cerca de 45 anos, a Casa de Saúde Santa Tereza mantém atendimento mensal para aproximadamente 200 pacientes. A maioria das pessoas internadas para tratamento na unidade é oriunda de municípios de diversas regiões do Estado. Há, também, pacientes encaminhados de municípios dos Estados da Paraíba, Piauí e Pernambuco. Anualmente, pelo menos 300 pessoas destes estados são encaminhados para tratamento na unidade.
"A situação se tornou crítica. Há mais de oito anos não há reajuste nos valores encaminhados pelo SUS para que os tratamentos dos nossos pacientes possam ser mantidos. Além dos valores serem defasados, há, também, a questão do atraso constante na liberação dos pagamentos. As despesas mensais nunca são quitadas na totalidade por causa da atual situação financeira. Praticamente estamos trabalhando como entidade filantrópica e não há condições para continuarmos desta forma", desabafou a farmacêutica Ana Isabel Barreto, que também atua na diretoria do hospital.
Segundo ela, os recursos atualmente recebidos se destinam, tão somente, ao pagamento da folha dos funcionários da unidade, que hoje chega a cerca de R$ 85 mil, e de linhas de crédito que o hospital precisou contrair para se manter aberto nos últimos meses. "Também há o pagamento de outras obrigações do hospital, como impostos e taxas, por exemplo. No entanto, o recurso não oferece a condição de realizarmos ações extremamente necessárias para que os pacientes recebam tratamento digno e de qualidade", revela.
Dívidas
Na avaliação da farmacêutica, os atrasos verificados na liberação dos recursos destinados pelo SUS também acabam gerando o aumento das dívidas da unidade. "Costumeiramente há atrasos na liberação destes recursos. Isso acaba gerando juros nas nossas obrigações sociais. Só a nossa GPS ultrapassa os R$ 44 mil. Então, a cada dia que este recurso não está disponível ao hospital, juros vão se acumulando e as dívidas aumentam", disse.
A diretora geral da unidade, Luciana Abath, informou que, além das questões relativas ao atraso dos recursos, pagamento de funcionários, fornecedores e obrigações sociais, o dinheiro pago atualmente não é suficiente para que reformas possam ser realizadas na estrutura física da unidade. "Nós temos uma necessidade muito grande de reformar algumas alas do hospital. Nossos pacientes acabam quebrando muita coisa durante a fase de tratamento. Há uma necessidade enorme na troca constante de vasos sanitários, realização de pintura em paredes, troca de sistema de canos, dentre outras demandas. O problema é que não há dinheiro para que estas situações também sejam resolvidas", afirmou.
Ela informou, ainda, que a situação da Casa de Saúde foi levada ao conhecimento do Ministério Público do Estado do Ceará, na perspectiva de que o órgão ministerial possa, de alguma forma, auxiliar o hospital. "Nós procuramos o Ministério Público para pedir socorro. Na verdade, estamos buscando chamar a atenção de toda a sociedade para um problema que se agrava a cada dia. É preciso que façamos algo de concreto para salvar o hospital. Caso contrário, não haverá outra alternativa a não ser o fechamento da unidade", frisa.
Preocupação
O secretário de Saúde do Crato, Francimiltom Mâcedo, informou que o município também está preocupado com a situação. Segundo ele, a gestão tem se mobilizado, nas últimas semanas, como forma de conseguir uma audiência com o secretário estadual da Saúde, Carlile Lavor, objetivando que o Estado também contribuía financeiramente com a manutenção do hospital.
"Desde que o problema chegou ao nosso conhecimento estamos tentando uma reunião, em Fortaleza, com o secretário da Saúde do Estado. A perspectiva é de que, no mais tardar, esta semana, nós repassemos todas as informações a respeito da atual situação do hospital Santa Tereza ao Estado e solicitemos que o governo crie algum mecanismo de incentivo e de apoio financeiro para reduzir o problema", informou.
Francimiltom Mâcedo ressaltou, também, que na tentativa de diminuir os gastos da Casa de Saúde com internamentos, o município está disponibilizando onze leitos para tratamento psiquiátrico no Hospital São Camilo e que a rede de atendimento psicossocial que está sendo criada deverá entrar em funcionamento nos próximos meses.
"O município está organizando sua rede de saúde mental. Estamos com o projeto de criação do Centro de Atenção Psicossocial para tratamento dos dependentes de álcool e drogas, bem como para tratamento infantil", disse

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