segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Deputados pregam cautela e evitam atacar Eduardo Cunha

Em janeiro, quando ainda era candidato a presidente da Câmara, Eduardo Cunha veio a Fortaleza pedir votos aos congressistas cearenses ( FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES )
Mesmo após as denúncias e divulgação de provas contra o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, citado na Operação Lava Jato como receptor de propinas em contratos da Petrobras, deputados federais do Ceará optam por pedir cautela. Alguns apostam que a permanência dele no cargo é insustentável, mas o discurso quase uníssono é de esperar o andamento do processo enviado ao Conselho de Ética da Casa por PSOL e Rede Sustentabilidade, apoiado por mais de 40 deputados de outras siglas, pedindo cassação do mandato do parlamentar.
O deputado federal Arnon Bezerra (PTB) afirma que seu partido não considera prudente fazer um prejulgamento do presidente da Câmara antes de ele ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Legislativo. "Toda e qualquer denúncia sempre reflete de forma negativa, mas temos que ter a prudência necessária para (ofensiva contra Cunha) não ser encarada como retaliação política", avalia.
Especulações
Tachando as denúncias contra Cunha como "mera especulação", Arnon Bezerra explica que é necessário ter cautela no caso para que não se cometam injustiças por conta de pressão política. "A minha opinião pessoal é que já tivemos no passado algumas pessoas afastadas por engano".
A análise de Arnon é partilhada por Genecias Noronha (SD), um dos apoiadores de Cunha de outrora. Ele diz que não vai antecipar opinião até que o processo chegue ao plenário da Casa. "Não tenho como me posicionar antes. E dar palpite é jogar conversa no ar", opina, comparando as acusações contra Eduardo Cunha aos pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff. "É a mesma coisa de eu pedir para a Dilma renunciar", alega.
A deputada Gorete Pereira garante que o partido ao qual é filiada, o PR, não fechou questão sobre a situação do presidente da Câmara. Apesar de ressaltar que não vai se posicionar sobre o pedido de cassação do deputado até ter acesso a detalhes do processo, ela acredita que Cunha não vai conseguir se desvencilhar do afastamento do cargo.
"Eu acredito que não tem jeito, mas não posso me pronunciar. Um criminoso, a gente sabe que ele matou a pessoa, mas se ele não foi pegue em flagrante, tem direito à defesa. Acho que a situação dele é indefensável pelo que estou vendo", compara.
O líder do PROS na Câmara Federal, Domingos Neto, admite que a opinião dele sobre Eduardo Cunha mudou após a divulgação de indícios de envolvimento do parlamentar nos desvios da Petrobras, como extratos bancários emitidos na Suíça com movimentações milionárias. "A opinião muda, porque ele não respondeu depois que as provas foram apresentadas. Ele diz que só responderia quando houvesse provas contra ele, mas não respondeu", ressalta.
Ele relata que as denúncias atingem a imagem do Legislativo, mas ressalta que não há outra alternativa a não ser esperar o processo do Conselho de Ética, já que o presidente reiterou repetidas vezes que não renunciará. "Compromete a imagem da Casa, prejudica a todo o coletivo, mas não tem instrumento de tirar um presidente da Casa sem que seja no Conselho de Ética".
Reconhecendo que as acusações contra Eduardo Cunha são "gravíssimas", o deputado federal Vitor Valim (PMDB) reforça que pretende se posicionar conforme o desenrolar da Justiça, em relação à denúncia assinada pela Procuradoria Geral da República, e do processo encaminhado ao Conselho de Ética.
"Existe um trâmite nessa Casa que tem que ser cumprido, tudo isso vai dar a ele direito do contraditório e vamos tomar uma decisão", justifica Valim. "As acusações são gravíssimas. Se isso for comprovado, não tem condições de ele continuar à frente da Casa", complementa.
Apesar de estarem em trincheiras opostas no cenário política, o tucano Raimundo Gomes de Matos e o petista José Airton Cirilo têm a mesma reclamação: o Ministério Público Federal não enviou à Câmara Federal o processo contra Eduardo Cunha para que os parlamentares tenham acesso às acusações.
"Todo mundo está aguardando que o Ministério Público apresente o conteúdo da denúncia. E até agora a matéria é da imprensa, mas quem tem que fazer a denúncia (à Câmara) é o Ministério Público", diz José Airton. "O PSDB está estranhando muito o porquê de o Ministério Público não ter oficializado esses assuntos à Câmara", relata Gomes de Matos, negando intenção de o PSDB fazer qualquer acordo interno para blindar Cunha.
Fogo concentrado
Questionado se as denúncias contra o presidente da Câmara são provas suficientes para afastá-lo do cargo, Gomes de Matos diz: "então precisa que 100 parlamentares sejam substituídos, a regra tem que ser para todos. Estão concentrando o fogo nele porque ele tem a caneta".
Sobre o fato de não ter assinado o documento que pede o afastamento de Eduardo Cunha, José Airton minimiza a ação. "Ninguém me procurou. Quem encaminhou é porque quer aparecer na imprensa, não houve articulação para isso. Não vou assinar enquanto o Ministério Público não se pronunciar. E nem foi objeto de discussão interna no PT. Dos federais cearenses, apenas Luizianne Lins (PT) e Leônidas Cristino (PROS) assinaram o pedido de cassação de Cunha.

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