quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Produtores enfrentam escassez no Centro-Sul do CE

As maiores reclamações são a queda no preço e o custo de energia elétrica ( Fotos: Honório Barbosa )
No desespero da manter a produção, os agricultores estão cavando poços por conta própria na região, uma trabalho manual que requer força e disposição
Iguatu. Produtores de banana e criadores de gado leiteiro em áreas dos municípios de Cariús, Jucás e Iguatu encontram dificuldades cada vez maiores para obter água para a irrigação do cultivo de bananeira e de capineira, nas várzeas do Rio Jaguaribe, na região Centro-Sul do Ceará. A escassez do recurso hídrico tende a aumentar com a redução da vazão do Açude Muquém, em Cariús, de 500 litros por segundo para 350 litros por segundo.
Alguns produtores começaram a cavar cacimbões nas áreas de cultivo em busca de água no subsolo. A produção de banana é uma atividade permanente e envolve centenas de pequenos produtores nas várzeas do Alto Jaguaribe. "Os poços estão secando e o jeito é aprofundar mais ou cavar novos cacimbões para tentar salvar o plantio", disse o agricultor, Carlos Gomes, na localidade de Cardoso, zona rural de Iguatu.
Importância
A produção de banana movimenta a economia local, dá renda e ocupação para centenas famílias de pequenos produtores. "É uma atividade de característica da agricultura familiar", observa o agrônomo José Teixeira Neto. "Se no próximo ano não houver fortes chuvas, elevação do lençol freático e do nível dos açudes, a perda de plantio por escassez de água terá impactos significativos para as famílias dos produtores", completou.
Esforço
Na semana passada, o produtor Luís Alves, com a ajuda de dois parentes, começou a cavar um poço na localidade de Cardoso. O trabalho é manual. Exige tempo, força e disposição. "É cansativo, mas é o jeito. O nosso esforço somente será recompensado se encontrarmos água", disse.
Há 15 dias, fruticultores da localidade de Barro Alto eram favorecidos com a liberação de água do Açude Muquém, em Cariús. Na semana anterior, a Comissão Gestora do Muquém decidiu reduzir a vazão para 350 litros por segundo, objetivando preservar água no reservatório para o abastecimento humano e animal em Cariús e Jucás.
Em decorrência da redução, a água não chega mais no leito do Rio Jaguaribe; às localidades de Barro Alto, zona rural de Iguatu; e de Maurícia, em Cariús. "Vamos enfrentar enormes dificuldades para manter a irrigação da bananeira", disse o produtor José Alves de Macedo, mais conhecido por Zé da Barra. "O jeito será reduzir o plantio ou mesmo suspender a produção", acrescentou. A consequência da medida é a queda na atividade produtiva e na renda familiar.
Os produtores de banana estão preocupados. O mesmo ocorre com os criadores de gado leiteiro, que precisam manter áreas de produção de capim irrigado para alimentar o rebanho. "Vamos enfrentar um ano de dificuldades, caso as previsões de chuvas abaixo da média sejam confirmadas", disse o produtor Edmilson Queiroz. "Não vamos ter alimentação e nem água".
Perenização
A perenização do Alto Jaguaribe começou em 2008, a partir de liberação de água do Açude Arneiroz II e do Muquém, beneficiando produtores ribeirinhos em cerca de 170Km. O Açude Orós há mais tempo assegurava a perenização do Médio e Baixo Jaguaribe. Depois ganhou reforço do Açude Castanhão. Dessa forma, o Jaguaribe perdeu a característica de ser o maior rio seco do mundo.
Atualmente, o Arneiroz II, na região dos Inhamuns, acumula apenas 2,9% de sua capacidade, e o Muquém, em Cariús, na região Centro-Sul, está com 32%.
Após quatro anos seguidos de chuvas abaixo da média, sem recarga nos reservatórios, desde 2012, o quadro foi modificado e agora se assemelha à década anterior. "É preciso preservar a água restante dos açudes para o consumo humano e haverá escassez para as atividades agropecuárias", observou o agrônomo Paulo Maciel, da Organização Não-Governamental (ONG) Instituto Jaguaribe.
O líder comunitário Luís Queiroz reclama de que produtores fazem pequenos barramentos com sacos de areia e instalação de moto-bombas para retirada de água ao longo do leito do rio. "É por isso que mesmo ocorrendo uma operação de liberação de água em maior quantidade por quatro, cinco dias, não chega às áreas mais distantes, nas localidades de Maurícia e Barro Alto, onde estão os plantios de banana, que precisam ser irrigados", observou. "O governo e a Cogerh nada fazem contra essas práticas irregulares", ressalta.
Outros custos
Além da escassez de água, os produtores de banana enfrentam também queda no preço de comercialização da fruta e a alta na tarifa de energia. A maioria não dispõe de relógio dupla tarifa, equipamento que permite irrigação durante a noite com redução de taxa em até 70%. Além disso, usa meios antigos de irrigar por inundação. "É um desperdício de água e de energia, mas faltam incentivo e capital para os pequenos produtores se adaptarem às exigências atuais de crise de água e de elevação do custo de energia", disse Teixeira.
As duas maiores reclamações dos produtores referem-se à queda no preço do fruto e ao custo de energia elétrica para irrigação, que subiu demais. O milheiro da variedade pacovan já chegou a ser comercializado por R$ 150, mas agora caiu para R$ 100. "Não dá para cobrir os custos de produção", observa o produtor Wagner Campos. "A situação está se complicando porque os poços estão secando e o temor é a falta de água em 2016".

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