quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A força da cultura indígena

Etnia Jenipapo-Kanindé, pela sua Associação das Mulheres Indígenas, foi uma das premiadas
São expressivas as tradições indígenas que resistem nos confins do Brasil. Festejos, costumes, religiões, cantos, danças, rituais e outras tantas formas de manifestação vêm se perpetuando, não sem o enfrentamento de uma série de dificuldades.
É com o objetivo de valorizar e estimular iniciativas culturais de povos indígenas e de suas comunidades que o Ministério da Cultura selecionou, na última semana, 70 novos Pontos de Cultura Indígena - dentre os quais estão duas comunidades cearenses.
Aquiraz
Os Jenipapo-Kanindé, por meio da Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé, foi uma das comunidades premiadas no Estado do Ceará. O edital visa contribuir para garantir a salvaguarda, preservação e difusão do patrimônio cultural material e imaterial da etnia.
"Para nós, Jenipapo-Kanindé, é mais uma conquista, pois já participamos de outros editais. Ser contemplado com o Ponto de Cultura não deixa de ser uma maravilha. Ficamos muito felizes com o resultado, pois sabemos que só vai melhorar mais ainda na valorização cultural de nosso povo", afirma Juliana Alves, a cacique Iré. Ela é sucessora da cacique Pequena e diretora da Escola Indígena Jenipapo-Kanindé.
Para Juliana, ainda não existem políticas de estímulo à cultura indígena suficientes para preservar as tradições. "Mas aos poucos estamos conseguindo, com a nossa participação nesses projetos, o Estado já consegue ter uma visão melhor da perspectiva indígena existente no Ceará. Esses apoios às associações indígenas têm sido muito importantes para as comunidades", diz.
Histórias
Com aldeia localizada no município de Aquiraz, os Jenipapo-Kanindé vivem na Lagoa Encantada. O local - visto pelos índios como um ambiente sagrado - guarda uma série de histórias e mitos. É comum que integrantes da etnia, em seus rituais, evoquem a memória dos antepassados, considerada simbologia da raiz do índio e mesmo do sentimento de pertença a uma família única.
Os discursos orais dos integrantes mais antigos da aldeia dão conta que os primeiros da etnia a chegarem na comunidade em Aquiraz vieram por volta do século XIX.
De início, eles ocupavam não apenas a Lagoa Encantada, mas também as regiões de Lagoa do Tapuio, Córrego de Galinhas, Córregos de Bacias, dentre outras.
Os Jenipapo-Kanindé foi uma das primeiras etnias que, durante a década de 1980, levantou bandeira em favor dos grupos indígenas do Ceará - juntamente com os povos Tapeba, Pitaguary e Tremembé. A sobrevivência, eles tiram da agricultura e da pesca. Durante todo o ano, os Jenipapo-Kanindé plantam mandioca. O cultivo de milho, batata doce e feijão, porém, eles só fazem quando chove.
A comunidade mantém fortes os trabalhos artesanais. Lá, os homens costumam fazer trançados de cipó e palha de carnaúba para produzir cestos, chapéus e caçuás, enquanto as mulheres fazem renda e artesanato em barro.
Há 20 anos, a Cacique Pequena, como é conhecida Maria de Lourdes da Conceição Alves, lidera a etnia. Ela foi a primeira cacique mulher do Brasil e tem atuação importante dentro da aldeia na luta pelos direitos indígenas, demarcação de terras e preservação da Lagoa Encantada. Pela sua contribuição ao longo da vida, Cacique Pequena ganhou o reconhecimento como Mestre da Cultura.
Recentemente, os Jenipapo-Kanindé realizaram uma mostra etnográfica de filmes e fotografias relacionados à temática dos índios.
Inhamuns
Outro grupo cearense contemplado no edital dos Pontos de Cultura Indígenas é a Aldeia Cajueiro. A etnia, que mora na região dos Inhamuns do Ceará (em Poranga), é formada pelos índios Tabajaras, também presentes em outras cidades do Estado, como Crateús, Quiterianópolis, Monsenhor Tabosa e Tamboril.
A Aldeia Cajueiro é fruto de uma retomada de terras. Atualmente, é habitada por cerca de nove famílias, entre Tabajara e Kalabaça. Um ponto de reivindicação importante na comunidade diz respeito à regulamentação da terra indígena. O grupo preserva diversas tradições, entre rituais, danças e a bebida mocororó, que provém do caju.
Ao todo, cada um dos 70 grupos selecionados no País como Ponto de Cultura receberá R$ 40 mil, a serem investidos em duas linhas: uma para estimular manifestações em diferentes áreas (religião, festas tradicionais, culinária, artesanato, museus, medicina indígena) e outra que visa financiar ações desenvolvidas no campo do audiovisual.
Mais informações:
Candidatos convocados no edital deverão enviar a documentação complementar para o e-mail cosen@cultura.gov.br até o próximo dia 29 de fevereiro

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