sábado, 22 de abril de 2017

Marcos da Seca em Senador Pompeu serão preservados

O sítio arquitetônico fica no entorno da cidade de Senador Pompeu ( Fotos: Alex Pimentel )
00:00 · 22.04.2017 por Alex Pimentel - Colaborador
A procissão ao cemitério da barragem do Açude Patu relembra, todos os anos, as vítimas da seca de 1932, mortas naquele lugar
Senador Pompeu. Os resquícios de uma das passagens mais cruéis da história da seca no Ceará conquistaram um aliado muito importante para a sua preservação. O Campo de Concentração, o Cemitério das Almas da Barragem, o Açude Patu e a Vila dos Ingleses, um sítio arquitetônico situado no entorno desta cidade do Sertão Central, provas materiais daquela época, serão restaurados e preservados pelo Município. A decisão foi tomada a partir de uma Ação Civil Pública (ACP), endossada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
Segundo o promotor de Justiça do Juizado Especial de Senador Pompeu, Geraldo Nunes Teixeira, um inquérito civil público e um relatório técnico foram realizados pelo MPCE, concluindo que o tombamento do "Campo de Concentração" é benefício para a defesa da cultura e da história cearenses, por apresentar "inegável valor histórico-cultural". O Município assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Caso seja descumprido, será aplicada multa de R$ 5 mil por mês de atraso.
Importância
Um relatório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reforça a importância histórica e cultural da área, que foi utilizada para instalação de um campo de concentração no ano de 1932, retendo retirantes que iam para Fortaleza, na tentativa de fugir da seca. Segundo o documento, dos sete campos de concentração existentes no Ceará, à época, o de Senador Pompeu foi o segundo maior, com uma população de 20 mil pessoas. Ainda existem sobreviventes que passaram pelo lugar e participam de uma caminhada religiosa.
Agora, além da Caminhada das Almas, realizada todos os anos, da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores até o cemitério da barragem do Patu, a história ao seu redor reviverá nos casarões erguidos na época da construção do açude. Foi o primeiro passo para o tombamento do sítio arquitetônico como patrimônio histórico. Ao assinar o Termo de Ajustamento de Conduta, a Prefeitura Municipal de Senador Pompeu se comprometeu em restaurar as edificações erguidas na década de 1920 como também preservá-las.
Solução
O açude Patu seria a solução para amenizar a problemática do abastecimento d'água na região. As obras foram iniciadas no ano de 1919, mas o reservatório só veio de fato ser concluído no ano de 1987. A sua construção foi marcada por atos de violação de direitos, a começar pelo cancelamento das obras, em 1924, que em seguida abriu os portões do canteiro de obras abandonado para a efetivação da política de confinamento de flagelados da seca do ano de 1932, prática que foi iniciada no ano de 1915.
Representando o Município, o secretário de Educação, Cultura e de Esportes, Célio Pinheiro informou ter participado na negociação com o Ministério Público do Estado. "Entendemos e reconhecemos a importância desse tesouro, tanto pelo aspecto religioso, como turístico. A nossa preocupação está apenas no prazo definido para a realização do restauro, 12 meses. Acreditamos que o prazo hábil é de dois anos. As administrações anteriores abandonaram o principal patrimônio histórico do nosso povo", explicou.
Foi o advogado Valdecy Alves, nascido em Senador Pompeu, quem ingressou com a Ação Civil Pública, exigindo a restauração e preservação do sítio histórico, em 2014. Entretanto, surgiu o impasse de quem seria a responsabilidade do restauro e da preservação do sítio, já que a obra foi realizada pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).
O Núcleo de Apoio Técnico do MPCE e o Iphan auxiliaram no embasamento da Ação. Após o restauro, será possível tombar o conjunto material e imaterial como patrimônio histórico Municipal, Estadual e Nacional, acrescentou o promotor de Justiça.
Campo de Concentração
Conforme pesquisas feitas por Valdecy Alves, no fim de abril de 1932, além do Patu, foram criados outros seis campos de concentração à beira da ferrovia que ligava Fortaleza ao Crato, linha ferroviária Norte-Sul, no Ceará. Foram os campos do Buriti, no Crato; de Cariús; de Quixeramobim; o do Ipu, no Norte do Estado e ainda do Otávio Bonfim, e do Urubu, em Fortaleza.
O objetivo era impedir que os flagelados invadissem a capital cearense. Em condição de sobrevivência sub-humana muitos acabaram morrendo em Senador Pompeu. Quando pároco de Senador Pompeu, na década de 1980, o padre Albino Donatti idealizou e passou a realizada a Caminhada das Almas. A procissão ao cemitério da barragem do Açude Patu relembra, todos os anos, as vítimas da seca de 1932, mortas naquele lugar, para muitos um campo de concentração.
Caminhada das Almas
A Caminha é realizada ao amanhecer do dia do segundo domingo do mês de novembro. Simboliza a luta do povo nordestino por direitos básicos, condições de vida digna para todos, esperança, um caminho de mudanças na qualidade da Educação e acesso à terra para produzir. Ele morreu no dia 7 de agosto de 2013, aos 92 anos.
Número
16.221
Era o número oficial de flagelados no Campo de Concentração localizado no Município de Senador Pompeu
73.918
Foi o número total de retirantes da seca alojados nos campos de concentração criados no Estado do Ceará
Enquete
Por que preservar?
"Eu era bem pequena quando vi gente sofrer por causa da seca. Guardo isso na minha memória. Preservá-la é importante para que os mais jovens tomem conhecimento também"
Iracema Cavalcante do Carmo
Evangélica
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"Temos uma responsabilidade cultural e histórica desta terra com as suas provas materiais e imateriais. O dever de todos nós é assegurar o seu cumprimento"
Acrísio Holanda do Carmo
Católico
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