domingo, 26 de novembro de 2017

Ações socioambientais se destacam no verde do Maciço


Além das aulas ambientais, ministradas pelo presidente da ONG, o técnico em Agropecuária Itamar Dias, no Centro Ecológico erguido pelas suas mãos e de parceiros, policiais militares ensinam artes marciais para crianças e adolescentes ( Fotos: Alex Pimentel )



Pacoti. Uma iniciativa socioambiental está se fortalecendo em uma área de proteção permanente da Mata Atlântica, no Maciço de Baturité. O espaço fica situado no leito do Rio Pacoti, nesta cidade serrana, distante 90Km de Fortaleza.
Neste segundo semestre, mais de 500 jovens, na maioria estudantes da rede pública, estão participando de atividades promovidas pela Organização Não Governamental (ONG) Pingo D'água, em parceria com a Polícia Militar do Ceará (PM-CE), a Enel Distribuição Ceará e a instituição internacional Marianne Grave, da Alemanha.
Além das aulas ambientais, ministradas pelo próprio presidente da ONG, o técnico em Agropecuária Itamar Dias, no Centro Ecológico erguido pelas suas mãos e de parceiros, policiais militares ensinam artes marciais para crianças e adolescentes. Quem é da terceira idade participa de atividades físicas. A ideia se espalhou e a poucos metros do portal de entrada da cidade, aquele recanto do rio acolhe os visitantes, todas as terças-feiras. Diante do interesse, a ação deverá se estender por mais dias na semana.
De uma única vez, o Pingo D'água está recebendo três ações promovidas pela Polícia Militar: Jovens do Futuro, Vida Ativa e Saudável e Escola que Educa e Protege. Elas integram o programa Maciço em Paz é Você Quem Faz. O trabalho é desenvolvido pela 3ª Companhia do 4º Batalhão Policial Militar. O soldado Francisco Edson Freire é o professor de artes marciais. Reunido com os estudantes, antes dos exercícios de alongamento, ele conversa com o grupo sobre o perigo do uso de drogas, e fortalece a importância da cidadania.
Além do soldado Freire, campeão internacional de boxe chinês, o tenente Paulo Diogo de Barros e o major Cláudio Sérgio de Mesquita, comandante da 3ª Companhia, participam das atividades socioeducativas promovidas pela Corporação no Maciço de Baturité. O major Claudio Sérgio é quem coordena os exercícios para o público da terceira idade. Ele é graduado em Educação Física. "Buscamos a ONG Pingo D'água porque encontramos nesse espaço uma interessante ação de cidadania", acrescentou o oficial.
Nos intervalos, é Itamar Dias quem leva seus conhecimentos ambientais aos visitantes. A cada encontro, ele faz questão de ressaltar a importância de lutarem juntos para salvar o Rio Pacoti, principal riqueza natural de cidade, juntamente com a mata nativa. Afinal, todos moram em uma Área de Proteção Ambiental (APA) e lembra a necessidade da constate vigília daquele importante manancial.
Hoje um agradável local, aquele trecho foi o lixão da cidade. Foram anos de trabalho para revitalizar a paisagem. Essa história começou há oito anos, quando o ambientalista resolveu adotar um filho e também o rio, para enfrentar a dependência do álcool. O convívio com natureza o ajudou. Quatro anos depois, convenceu amigos a participarem da mobilização e fundaram a ONG. Como o processo de revitalização é muito mais demorado do que a degradação, alguns abandonaram a proposta, mas, com o auxilio da Enel e da Fundação Marianne Grave, as ações vão se consolidando.
Os professores das escolas engajadas na proposta elogiam as iniciativas e reconhecem o esforço de Itamar Dias. Um deles é Rubens Barroso, da Escola de Ensino Fundamental e Infantil Fernando Moreira Sales. "A dedicação de Itamar trouxe de volta a esperança e o estímulo a lutarmos também pela conservação do ambiente onde vivemos. Pode parecer tarde, mas a natureza sempre nos surpreende e, mesmo sendo como um pingo d'água, um dia voltaremos a ver a água, e pura, correndo por esse rio", comentou, ressaltando sempre realizar trilhas pela floresta do Maciço de Baturité.
No Centro Ecológico também existe uma horta orgânica e uma área de compostagem, na outra margem do rio. Como dedica a maior parte do seu tempo ao rio, Itamar junta as folhas secas e, com elas, o lixo deixado por quem ainda não sabe que um copo plástico pode levar ate 400 anos para se decompor na natureza. "A maioria nem imagina que lixo vale ouro. Sabendo tratar os restos orgânicos podemos transformá-los em adubo orgânico. O preço do saco é bem superior ao do esterco de vaca", completa o técnico em Agropecuária.
Como Itamar passa o dia no Centro Ecológico, está sempre disponível para atender quem busca conhecimento e orientação sobre a natureza. Apesar de ainda ter um grande desafio pela frente, a despoluição, principalmente o despejo de esgotos no rio, que nasce a poucos quilômetros da sede da ONG e corre cerca de 100Km com destino ao mar, ele pretende tornar todo o trecho do principal afluente do seu Município, na área urbana, em um imenso bosque.
Do outro lado da cidade, numa extensão de um quilômetro, existe o Polo de Lazer, com alguns bosques. O equipamento foi inaugurado em dezembro de 2003. Com a transformação da região em uma APA, não permitindo mais os cultivos tradicionais, o Parque se tornou um símbolo da principal vocação econômica do Município, o turismo ecológico.
Todavia, passados quase 15 anos, não foi restaurado. Mesmo assim, é comum famílias e visitantes fazerem exercícios físicos e até piqueniques nos fins de semana. O local é muito agradável apesar de, nessa época do ano, não correr água pelo rio.

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