domingo, 26 de novembro de 2017

Puxa o Fole: Campo de disputa

O Encontro aconteceu no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, na Paraíba ( Fotos: JL Rosa )
Shows gratuitos animaram as noites do evento
Quem acompanha o universo do forró na totalidade encontra diversas derivações do gênero. Os dois extremos são nítidos, o eletrônico e o tradicional. Na Paraíba, de 20 a 22 de novembro, instrumentistas, percussionistas, sanfoneiros, pesquisadores e produtores culturais estiveram reunidos no Encontro Nacional de Forrozeiros para definir, alinhar e transformar em patrimônio as matrizes do forró. Os presentes se dividiram em diversas mesas redondas para debater e avaliar as variadas facetas onde o ritmo está representado.
Sem generalizar, mas diferente dos sertanejos, onde a união de nomes de diferentes gerações se torna visível em produções de shows, no encontro paraibano o que se presenciou foi uma parcela do forró. Cantores, sanfoneiros e produtores culturais de raiz reconhecem e batem palma para o profissionalismo e a dedicação nas produções de nomes como Wesley Safadão e Xand Avião, mas intitulam os mesmos em um nicho, comum ao Ceará, chamado de "Forró de plástico". A tipificação se dá pelo fato do surgimento em grande escala e a forma de inserção das bandas de forró no mercado.
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Gostou? Tem mais sobre o Encontro Nacional de Forrozeiros na TVDN, o canal do Diário do Nordeste no YouTube. Confira entrevistas realizadas no evento e imagens dos shows de Dona Joana e Chambinho do Acordeon 
Nos discursos enfatizados nas mesas-redondas, uma afirmação era de comum acordo: "Não estamos pedindo uma reserva de mercado". Nos debates, em meio a agentes do Ministério Público Federal e do Tribunal de Contas da União (TCU), a exigência de políticas públicas voltadas ao profissional do forró era a pauta frequente.

Planejamento
Ao mesmo tempo, a consciência de estudiosos e produtores culturais é que os forrozeiros de raiz ainda não sabem desenvolver projetos para o atual mercado. Joana Alves, principal articuladora do Fórum Nacional do Forró de Raiz, explica que a globalização foi um fator determinante para não preservação do gênero.
"Eles estão se sentido excluídos das produções. Por isso a necessidade de criar esses espaços. Os artistas ainda não estão acostumados a vender o produto que tem. A cadeia produtiva da música está perdida em certa parte", explana a produtora.
Henrique Sampaio, um dos coordenadores do Encontro Nacional de Forrozeiros, teme por alguns discursos separatistas. "Dizer o que é forró é um campo em disputa. Várias vozes desejam ser beneficiadas por políticas públicas que venham a favorecer cada um. Existe um campo de discórdia. Por enquanto, não há como definir. Vejo com preocupação algumas falas no sentido de tentar excluir o outro sob critérios que parecem poucos subjetivos. Do ponto de vista de uma linguagem chula, de uma perspectiva mais romântica e coisas do gênero. É complicado, pois dentro de um universo tradicional você tem também essas formas de expressão".
Ainda na avaliação de Sampaio, o que se nota é que o individualismo é um fator determinante no afastamento do forró em relação aos outros gêneros. "Eu diria que o mais próximo da verdade é que no universo artístico existe um comportamento individualista. Esse comportamento está relacionado a uma lógica de mercado. A sociedade capitalista promove isso e estabeleceu como critério a meritocracia que também está no universo da música".
Na concepção de Isabel Santos, gestora em cultura popular e participante do Encontro, a situação do forró eletrônico e do forró de raiz é semelhante a uma fase vivenciada por outros ritmos, como o tango na Argentina.
"Futuramente tudo vai se acomodar. Isso aconteceu em outras culturas tradicionais, como o tango. Durante a década de 1990, o tango novo, que é eletrônico, até a forma de dançar que um pouco diferente, foi criticada pela tradição. Mas depois foi acomodado", comenta Isabel.
"Cada segmento tem um espaço. É bom que haja uma convergência e os dois se respeitem. Vai acontecer, mas vai demorar. Vejo um movimento do próprio forró eletrônico de preservar as letras. Já estão fazendo esse caminho de volta. A convergência para o meio é sempre mais interessante. No fim é a essência que fica", afirma à estudiosa.
*O colunista João Lima Neto viajou a João Pessoa a convite do governo do Estado da Paraíba e da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur)
Desejo

70% das verbas de eventos

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Como último ato do Encontro Nacional, representantes do forró de tradição elaboraram uma carta com recomendações aos órgãos públicos em defesa do gênero. Um dos tópicos aponta que os investimentos do poder público em festas anuais, como o São João, devem ter cerca de 70% dos valores voltados aos profissionais "de raiz".
Outro ponto citado na carta é direcionado à programação dos eventos. Os músicos pedem que as apresentações de forró de raiz ocorra em dias opostos aos dos cantores de bandas de forró eletrônico e de grupos de outros gêneros. A medida, segundo os próprios forrozeiros, visa o respeito com os músicos tradicionais.
A preservação da memória do forró por meio da criação de espaços abertos em embaixadas brasileiras também foi questão lembrada no documento. A ideia é que produtores culturais brasileiros que atuam no exterior cuidem da gestão destes ambientes.
A carta com demandas da categoria, redigida em debate, será recomendada aos governos municipais e estaduais onde o forró possui representações.

Diferença de cachês

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Durante o Encontro Nacional de Forrozeiros, uma das discussões mais quentes foi a contratação de artistas pelo poder público. Agentes do MPF e do TCU escutaram reclamações da categoria. As diferenças de cachês e uma melhor divisão da contratação de artistas foram pontos criticados. "O MPF pode ser acionado para promover as ações da área criminal e de improbidade", declara o Juiz Onaldo Queiroga. Foto: JL Rosa

Tradição junina agora é lei

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Os festivais de quadrilhas de Fortaleza estão incluídos no Calendário Oficial de Eventos do Município. Conforme o texto, durante o período de comemoração, devem ser promovidas apresentações de quadrilhas juninas em todos os bairros. A totalidade seria perfeita, mas será conseguida na prática? Foto: Kid Júnior

Produção é contestada

No evento, o cantor Assisão, autor de mais de 800 letras de forró, fala sobre a falta de atenção do poder público em eventos. "Você nota a diferença na produção de camarins. No palco ficamos em um pequeno espaço por conta da iluminação e som das bandas de sertanejo".

Feira deve agitar mercado

Prometendo aquecer o setor, a 1ª Feira Nacional de Negócios e Serviços Juninos acontece de 1º a 4 de março, no Parque do Povo, em Campina Grande, na Paraíba. Além de oportunidades de negócios, o evento terá palestras, capacitações, shows, exposições e artesanato.

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