domingo, 29 de abril de 2018

Museu da Fé e da Devoção funciona no Sertão Central

O Museu da Fé e da Devoção funciona há pouco mais de seis meses, na sede do Instituto Assum Preto de Arte, Cultura, Cidadania e Meio Ambiente e tem recebido alunos de escolas públicas e particulares da região e turistas ( Foto: Alex Pimentel )

A coleção do Museu materializa as diferentes titulações da Virgem Maria, diversos outros santos e também peças de votos esculpidos de partes do corpo ( Foto: Alex Pimentel )
Senador Pompeu. A paixão pela cultura religiosa foi o principal motivo do surgimento de um espaço dedicado exclusivamente à preservação e exposição de artes de personagens católicos, a maioria trabalhadas à mão, no Museu da Fé e da Devoção.
O relicário é mantido, com recursos próprios, pelo curador Adriano Souza, nesta terra conhecida pelo campo de concentração do Açudes Patu, onde morreram milhares de flagelados da seca de 1932, e pela Caminhada das Almas, idealizada pelo então pároco Albino Donatti e realizada anualmente, no segundo domingo de novembro, desde 1982, em homenagem àqueles retirantes.
Além da preservação, o idealizador, segundo ele, do único museu exclusivamente de arte sacra particular do Ceará, e também produtor cultural, vê na sua iniciativa a disponibilização ao Município, que ainda não possui o seu museu, e à região, um lugar de memória para divulgação e visibilidade do tema religioso, ao mesmo tempo incentivar a cultura do colecionismo no Estado por meio da exposição da sua coletânea particular.
O acervo é constituído de peças com origem em diversos estados brasileiros, dentre estes, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e Ceará. Há, ainda, imagens portuguesas e francesas.
Por meio da visitação do espaço museológico aberto recentemente, é possível apreciar no ambiente cuidadosamente preparado, um rico conjunto de imaginária doméstica, esculturas de estilo diversos, cujo estudo minucioso para identificação da procedência e autoria serão objeto de ações posteriores.
Acrescenta o museólogo que seu acervo é composto por mais de 100 peças sacras, de períodos diversos, oratórios e práticas votivas. Ainda destacam-se inúmeros votos esculturais, oriundos das cidades de Canindé e Juazeiro do Norte, confeccionados em reconhecimento a uma graça alcançada.
Reflexão
O museu tem característica devocional por apresentar peças referentes ao culto católico oficial, ressalta o curador. No entanto, sua missão vai bem além da valorização e difusão da arte sacra de cunho católico.
Busca favorecer a reflexão crítica sobre a História do Nordeste, em recorte especial, o Ceará, por meio de ações de preservação e pesquisa do Patrimônio Cultural cearense, tendo como ponto de partida o acervo constituído, acrescenta Adriano Souza, também curador do museu.
Além do aspecto exposicionista, como ele se refere, o Museu da Fé também valoriza as práticas devocionais locais inscritas no contexto espacial, social e religioso do Ceará. Do ponto de vista da época de confecção, de acordo com as pesquisas até então realizadas, os objetos coletados percorrem os séculos XVIII, XIX e XX, com exceção de algumas imagens de recente produção de destacados artistas mestres santeiros fazedores das imagens, como Ambrósio Córdula, do Rio Grande do Norte.
A devoção aos ícones cristãos é tradição desde o surgimento desta profissão de fé. Dos signos feitos em desenhos e mosaicos nas primeiras eras da cristandade, aos vitrais das catedrais góticas e as obras primas da pintura e da escultura renascentista, os cristãos, em particular os católicos, ornamentaram seus templos com representações imagéticas de Deus, mártires, santos e santas, hábito preservado.
Destaques
Como expressão genuína da fé e da devoção, a coleção do Museu materializa diversas invocações, representando por exemplo, o Nascimento, a Paixão e Morte de Jesus Cristo, as diferentes titulações da Virgem Maria, como Nossa Senhora Boa Pastora, Nossa Senhora da Conceição, da Piedade, do Rosário, Montserrat e Nossa Senhora das Dores, padroeira de Senador Pompeu.
Há ainda os santos da família de Cristo, em diversas imagens de São José, Sant'Ana e São João Batista. Aparecem ainda, os santos e as santas mártires e pertencentes às ordens religiosas, em dimensões compatíveis com o culto doméstico, os penitentes, como Maria Madalena, os fundadores das ordens, como São Domingos de Gusmão, os santos arcanjos, Miguel e Rafael, assim como, em abundância, os de notória predileção popular, Santo Antônio, Santa Rita de Cássia, São Benedito, São Sebastião e Santa Luzia.
Peças de votos esculpidas, representações do corpo humano fragmentado em cabeças, mãos, pernas e pés, seios, livremente esculpidos e recortados em madeira, de intensa expressão, que correspondem à parte doente do corpo que foi curada complementam o conjunto cultural em um ambiente sombrio denotando a reflexão sobre as relações estabelecidas, do período Colonial aos dias atuais, possibilitando analisar certas formas de expressão devocional de outrora, imersas no universo do catolicismo tradicional de matriz barroca.
O Museu da Fé e da Devoção funciona há pouco mais de seis meses, na sede do Instituto Assum Preto de Arte, Cultura, Cidadania e Meio Ambiente. Apesar do curto período, recebe visita de alunos de escolas públicas e particulares da região e de turistas, geralmente pesquisadores interessados na história do Campo de Concentração do Patu e na caminhada religiosa realizada anualmente.

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