quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

90 anos de Sérvulo Esmeraldo: homenagens celebram a vida e a memória do artista cratense


Sérvulo deixou um legado de mais de 30 esculturas e
incontáveis esboços. (Foto: Natinho Rodrigues)
Basta caminhar com um olhar mais atento por Fortaleza para perceber a convergência da criatividade do artista Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) com o desenho arquitetônico contemporâneo da cidade. Para citar dois trabalhos mais conhecidos, temos à beira-mar, o "Movimento ao Interceptor Oceânico" que se equilibra, há décadas, em meio à feirinha de artesanato na Praia do Náutico; e, no Centro, a escultura-fonte "Ballet Gráfico" que divide a beleza do espaço com a Catedral da Sé e o Mercado Central. "Ele tinha a ideia de fazer da cidade de Fortaleza um grande museu a céu aberto de esculturas", elucida a viúva do artista, Dodora Guimarães Esmeraldo.

A genialidade e contribuição para a arte do multiartista nascido no Crato serão comemoradas com o "Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo", a partir desta quarta-feira (27), no Cineteatro São Luiz. A data da abertura não foi escolhida à toa, ela coincide com o dia em que Sérvulo completaria 90 anos.

Promovido pela Secretaria de Cultura do Estado, o evento gratuito e aberto ao público terá um cerimonial, com a presença de Dodora, apresentação musical e a exibição do documentário "Sérvulo Esmeraldo: o espaço no infinito".

(Foto: Fabiane de Paula)
Curadora do acervo e à frente do Instituto Sérvulo Esmeraldo, Dodora adianta que mais eventos estão sendo produzidos para lembrar a obra do artista, tanto no Crato como em Fortaleza. Entre eles, destaca-se o projeto de um Festival na cidade em que ele nasceu, no aguardo de aprovação do Edital Mecenas, da Secult. "Nós daremos ênfase sobretudo na formação, na difusão da informação do trabalho da arte contemporânea", pontua Dodora.

A proposta é oferecer um seminário com curso de arte contemporânea, curso de formação de arte para professores de escolas públicas e uma residência de artistas que dialogam com as obras de Sérvulo. A edição prevê ainda uma homenagem a Maciej Babinski, polonês naturalizado brasileiro e amigo próximo do artista cratense.

A cidade do Crato receberá ainda uma exposição fotográfica com imagens de Gentil Barreira, que acompanhou a trajetória e registrou a vida, exposições e obras de Sérvulo desde a década de 1980. Já em Fortaleza, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC) deve expor trabalhos do artista que estão sobre o seu poder. Ao todo, o acervo do museu soma 77 obras, de acordo com a viúva. "A ideia é mostrar os verdes anos do Sérvulo, o início dele como artista", declara.

Durante este ano serão lançados também dois livros, um deles de gravuras, primeira expressão artística que projetou Sérvulo, e, o outro, com as peças de joalheria desenhadas por ele. "Pouca gente sabe que ele fez joias ao longo da vida", explica Dodora.

Fora do Ceará, mas ainda dentro das comemorações previstas pelo Instituto Sérvulo Esmeraldo, a obra do artista ganhará novas exposições, em espaços do Rio de Janeiro e São Paulo.

Casa-museu
Dodora e Sérvulo foram casados durante 36 anos. Além da parceria na vida, os dois se complementavam no trabalho. "Ele é o amor e o artista da minha vida. Desde que nós nos encontramos, a gente passou a trabalhar juntos. Eu acompanhei todo o trabalho do Sérvulo e sempre fui muito companheira. Fui sempre uma curadora do Sérvulo, no que a palavra tem de mais precisa. A nossa casa é Sérvulo Esmeraldo, mas também é Dodora. Foi muito bom e eu gosto de cultivar esse amor e essa obra", caminha com as palavras para reviver as lembranças.

Com o falecimento do esposo, ela preferiu continuar morando na mesma residência, apesar dos palpites contrários. "Como é que eu vou deixar a casa? O Sérvulo está lá", brinca com a resposta dada. E está mesmo. A sala principal é repleta de maquetes e esculturas dele, assim como outros cômodos, como um quarto que abriga mais obras e um armário que guarda em suas gavetas esboços de um acervo ainda incontável.    Diário do Nordeste

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