terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Campanha inédita visa à preservação da fauna em município do Cariri

(Foto: Marcelo Sales)
Com o tema "Pássaro preso na gaiola não canta, pede socorro", a Secretaria do Meio Ambiente de Várzea Alegre, na região do Cariri, lançou a campanha inédita no interior cearense, cujo objetivo é conscientizar estudantes a não seguir um antigo hábito cultural do sertanejo: trancafiar em viveiros e gaiolas aves silvestres da caatinga.

Mediante a repercussão positiva nas redes sociais, a ideia deve chegar logo a outros municípios cearenses. "Vamos fazer uma ampla campanha ambiental, colocar fotos de pássaros com nome científico em gaiolas que foram apreendidas", explica o secretário do Meio Ambiente de Várzea Alegre, J. Marcílio, autor da ideia. "É crime ter pássaros silvestres em cativeiro", acrescenta o titular da Pasta.

Algumas espécies estão desaparecendo do sertão. Raramente, se encontram canários da terra, caboclinho, azulão, pintassilgo, jacu, galo-de-campina, corrupião, sabiá e asa-branca. Quem percorre estradas vicinais observa jovens com gaiolas e armadilhas nas mãos em busca de apreender os pássaros.

Agravante
O fechamento dos escritórios regionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a precariedade na fiscalização facilitam a ação predatória contra as aves silvestres no interior do Estado. Nos alpendres das casas, é comum encontrar gaiolas e pássaros presos.

"Criar aves silvestres em gaiolas é um costume antigo, que integrou a nossa cultura", observa J. Marcílio. "Precisamos contribuir para mudar essa realidade e vamos iniciar pelas crianças, adolescentes, estudantes que vão ser conscientizados". A campanha vai começar pela rede municipal de ensino. "Os jovens vão saber que é crime ambiental apreender pássaros silvestres e vão levar essa mensagem para os pais e avós", prevê Marcílio.

Intensificação
A campanha vai ganhar força a partir da abertura da Semana da Árvore, em 20 de março na cidade de Várzea Alegre. "Estamos preparando as gaiolas com fotos de pássaros, nome popular e científico e informar se estão na lista de aves ameaçadas de extinção", avisa Marcílio. "Vamos educar, conscientizar os jovens, porque os adultos que gostam de criar passarinhos em gaiolas dificilmente mudarão de ideia", avalia.

O titular da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Artur Bruno, aprovou a ideia, e um colega da Bahia pediu cópia do projeto para replicar em cidades baianas. "A repercussão está bem maior, confesso que não esperava tanto retorno assim de imediato", pontuou o prefeito de Várzea Alegre, Zé Hélder.

O presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, evidencia a importância da campanha e disse que vai levar a ideia para outros gestores com o objetivo de que mais secretarias locais de meio ambiente abracem a causa. "Precisamos preservar a nossa fauna e, antes de punir, creio que o melhor caminho é a educação", diz. "É preciso ampliar o combate ao tráfico de animais silvestres".

A campanha pede que se denuncie o tráfico e tem o apoio da Polícia Ambiental, da Superintendência Estadual do Meio Ambiente e do Ibama.

Importância
As aves têm o papel de espalhar sementes na natureza, contribuindo para o reflorestamento de fruteiras e árvores nativas. "Os passarinhos se alimentam de frutos e fazem a semeadura no campo", observa o professor André Wirtzbiki. "Lamentavelmente, houve uma drástica redução dos exemplares de espécies nativas, que estão se extinguindo". De acordo com o relatório "State of the World's Birds", divulgado em 2018 pela ONG BirdLife International, uma em cada oito espécies está ameaçada de extinção. São 1.469 aves em perigo, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.      Texto adaptado / Com informações do Diário do Nordeste

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