quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Produtores no Cariri combatem lagarta do milho com uso de bioinseticida Bt

Quando chegou de Pernambuco para morar em Juazeiro do Norte em 1974, o ex-gerente de fazenda e vaqueiro Pedro Gonçalves da Silva, 67, mais conhecido como Pedim, já dominava as técnicas de inseminação artificial bovina e a pecuária de leite. Com a criação do Condomínio de Produção Familiar Dona Bia, na Zona Rural de Juazeiro do Norte, “Pedim” passou a dominar a prática da horticultura, da produção orgânica com a técnica agroflorestal e mais recentemente o uso do bioinseticida Bt. O novo conhecimento vem sendo fundamental para o controle de uma praga responsável por muitas perdas na safra do milho.

O produto biológico é usado no combate à lagarta do cartucho, praga que ataca a lavoura do milho no estado e nesta safra vem causando prejuízos aos agricultores. Visando reduzir esse dano econômico e direcionar um tratamento adequado e sustentável ao problema, está sendo usada uma solução concentrada de uma bactéria denominada Bacillus thuringiensis ou apenas bioinseticida Bt.


Desenvolvido em laboratório da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) desde 2017, e distribuído sob orientação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), o Bt já vem apresentando ótimos resultados no combate e controle da praga, tanto em lavouras de milho como em hortas. Na área de plantio no Condomínio Dona Bia, onde começou a ser aplicado em janeiro de 2020, em cerca de seis hectares já foi possível identificar os efeitos do uso do produto. “Com a lagarta do cartucho, que vai até o talo da folha, em dois ou três dias ela tá morta. Mas é preciso aplicar o Bt logo no início do plantio para não ter risco de perder a colheita”, diz Cícero Gonçalves, outro produtor da região e que atua no condomínio.


Segundo o técnico agrícola da Ematerce Alan Douglas, do Escritório da Ematerce na Regional Crato, as vantagens da aplicação do Bt, em relação aos defensivos químicos, são muito grandes. Além de zero impacto à natureza e às culturas, porque o Bt é a base de concentrado de uma bactéria, que atua diretamente no sistema digestivo da lagarta destruindo a praga em dois ou três dias no máximo, a solução é facilmente produzida e sua aplicação não precisa de equipamentos de segurança. 

“Infelizmente ainda há uma resistência por parte dos produtores rurais, porque com o defensivo químico ele vê o animal morrer na hora, enquanto com o Bt o veneno atua dentro do animal mais vagarosamente, mas a eficácia é mais limpa para o solo, a planta e o meio ambiente”, explica Alan. A Ematerce realiza a distribuição do Bt juntamente com as sementes do Programa Hora de Plantar, do Governo do Ceará por meio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário. 

Agrofloresta
Na rotina do agricultor João Evangelista, a aplicação do Bt não serve apenas para combater a praga no plantio de milho mas, também, no cultivo de tomate cereja, alface, coentro, cebolinha e outros. No condomínio de produção familiar, o grupo de cerca de 50 famílias atuam em outros polos produtivos como produção de queijo ricota, coalho, manteiga, doce, pão e bolo. Além do uso da tecnologia para o combate à lagarta, os produtores utilizam a técnica de produção agroflorestal, que garante maior sustentabilidade de várias culturas e o melhor aproveitamento do solo. É o caso do plantio consorciado de glicerídeo com mamão, amora, açaí, baobá, achaia. Isso diversifica e descentraliza a produção dos agricultores familiares, garantindo renda durante todo o ano sem depender de bom inverno e outros fatores externos. 

Atualmente, os produtores já têm compradores garantidos em feiras e com pequenos e médios empresários e comerciantes; já venderam pra o mercado institucional de merenda escolar e pretendem voltar a este segmento. 

Demanda 
Desde janeiro o Escritório Regional da Ematerce no Crato vem distribuindo doses do Bt nos municípios de Crato, Farias Brito, Juazeiro do Norte, Caririaçu, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Abaiara, Santana do Cariri, Nova Olinda, Altaneira, Várzea Alegre e Granjeiro.

Segundo o professor Marcos Vinícius Assunção, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e assessor da SDA, mais 500 doses devem chegar nos próximos dias para atender a demanda em outros municípios do estado, que é bem maior ainda do que a capacidade de produção do laboratório. “Nessa fase experimental, o produto tem sido um sucesso, apesar da resistência do agricultor que ainda só acredita nos efeitos quando ver a lagarta morta. O veneno biológico atua quando a lagarta tenta comer a planta e se alimenta do Bt, que vai destruir seu sistema digestivo, matando o animal em dois dias aproximadamente. Agora, precisamos trabalhar para disseminar e divulgar essa informação o máximo possível”, destacou Vinícius. 

O Estado do Ceará é um dos maiores produtores de milho do Nordeste brasileiro, plantado, principalmente, por agricultores familiares. Somente a Secretaria do Desenvolvimento Agrário-SDA, através do Projeto Hora de Plantar, distribui, em média, 2.600 toneladas de sementes desta cultura, para 182 municípios, anualmente, suficientes para 130.000 hectares.

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