quinta-feira, 27 de maio de 2021

Justiça de SP condena comerciante acusado de matar caririense com flechada no pescoço após discussão em 2016

Denis Kim foi preso por atirar uma flecha no carroceiro Aldemir Pontes, em 2016. — Foto: Reprodução / TV Globo / Polícia Civil / Arquivo Pessoal

A Justiça condenou a 14 anos de prisão o comerciante acusado de matar um carroceiro com uma flechada no pescoço após discussão em 2016 em São Paulo. O julgamento ocorreu na última sexta-feira (21) na 1ª Vara do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital. O réu está preso.


O assassinato foi cometido na tarde de 14 de setembro de 2016 na Rua Mamoré, no Bom Retiro, centro da cidade. Naquela data, Denis Young Kim usou uma balestra (ou besta), nome da arma voltada a esporte e caça, para disparar uma flecha que perfurou a artéria carótida de Aldemir Ribeiro Pontes. A vítima era da região do Cariri, e trabalhava como catadora de materiais recicláveis.


Uma câmera de segurança gravou Aldemir empurrando a carroça antes do crime. Depois, outro vídeo mostra o carro de Denis, um Peugeot 206 prata, no mesmo endereço logo após o assassinato. De acordo com o Ministério Público (MP), o disparo foi feito de dentro do veículo. Um vigilante contou à Polícia Civil ter visto o motorista apontar a arma para Aldemir enquanto discutia com ele.


"Ele parecia discutir com o catador de material reciclável na língua dele", disse a testemunha à época também ouvida pela reportagem. Quando passou pelos dois, ela ouviu um barulho e, ao se virar, percebeu que a vítima estava caída com uma flecha no pescoço. "Ele morreu ali."


Uma policial militar à paisana que passava pela região logo após o homicídio anotou a placa do Peugeot de Denis logo após vê-lo atirar em Aldemir.


Prisão do assassino

Com as imagens, o depoimento da testemunha, que depois socorreu a vítima e reconheceu o assassino, e o número da placa do carro, a Polícia Civil identificou, localizou e prendeu o dono do automóvel no dia seguinte ao crime no apartamento em que ele morava.


Denis tinha 33 anos quando foi detido e confessou o homicídio. Mas alegou que não queria matar Aldemir, a quem conhecia. Sua intenção seria apenas dar um susto nele porque o homem teria arranhado seu carro com a carroça e não queria pagar o reparo pelo dano causado.


O catador usava a carroça para trabalhar. Ele iria completar 64 anos no dia seguinte ao crime. Aldemir nasceu em Santana de Cariri, na região do Cariri cearense, mas morava em Guarulhos, na Grande São Paulo, com filhas e netos. Era divorciado.


Quando foi encontrado pela polícia, Denis ainda tentou fugir, mas foi preso. Com ele foram encontradas e apreendidas a besta usada no assassinato de Aldemir, uma faca e drogas. O comerciante também tinha adulterado os números da placa do carro com uma fita adesiva para tentar despistar a investigação.



Besta

A besta, como a balestra é popularmente conhecida, funciona com um arco na ponta, com flechas (chamadas de setas) na transversal. Elas são acionadas por um gatilho.


Segundo policiais, o equipamento custa entre R$ 1 mil e R$ 3 mil e pode ser comprado em lojas de artigos esportivos e na internet até mesmo por menores de idade porque não há no Brasil uma lei que regulamente seu uso.


Julgamento

Além do homicídio, Denis chegou a ser indiciado pela polícia por porte ilegal de droga, uso de arma branca, desacato, desobediência e resistência. Mas acabou condenado somente por homicídio duplamente qualificado: motivo fútil e utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima. O júri popular ocorreu quase cinco anos depois do crime.


“Os jurados decidiram com justiça ao condenarem indivíduo extremamente violento e que matou um humilde catador de recicláveis com uma flechada no pescoço. O crime foi cometido por motivo fútil. Tudo aconteceu porque o réu considerava a vítima um mendigo que atrapalhava o trânsito com sua carroça”, disse o promotor Felipe Zilberman, nesta quarta-feira (26).


Até a última atualização desta reportagem não havia confirmação do local onde ele está preso nem onde irá cumprir a pena, em regime fechado. A defesa de Denis, que é feita pela Defensoria Pública, não se pronunciou para comentar o assunto.


Perfil do condenado

Formando em Ciências da Computação na Califórnia, nos Estados Unidos, Denis é brasileiro naturalizado, segundo o MP. Descendente de sul-coreanos, ele trabalhava em São Paulo como comerciante. Atualmente está com 38 anos.


Em 9 outubro de 2013, Denis já havia sido preso em flagrante pela Polícia Militar (PM) por tentativa de homicídio também no Bom Retiro. À época ele discutiu e esfaqueou outro comerciante, um brasileiro também descendente de sul-coreanos. A vítima, que tinha então 24 anos, foi ferida na barriga e sobreviveu.


O que motivou a briga foi Denis estar namorando a ex-mulher do rapaz. A vítima tinha ido à casa da ex-mulher pegar o filho de ambos para passear. Quando Denis soube, não gostou e apareceu armado com duas facas.


Policiais civis ouvidos pelo G1 não souberam dizer porque Denis foi solto depois do crime.


Fonte: G1

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