terça-feira, 31 de maio de 2022

Mulher trans denuncia academia por transfobia em Juazeiro do Norte: 'não aceitava pessoas como eu'

Academia atende clientes somente do sexo feminino. Foto: Shutterstock

Uma mulher trans relatou que sofreu transfobia em uma academia "exclusivamente feminina" no bairro Pirajá, em Juazeiro do Norte, nessa segunda-feira (30 de maio de 2022). Jhully Carla de Sousa, de 26 anos, disse ter sido impedida de realizar a matrícula pelo proprietário do local. Um Boletim de Ocorrência foi registrado para apurar o caso.

 

"Fui impedida de entrar. Ele falou para a funcionária que não aceitava na sua academia pessoas como eu porque é uma academia feminina, e a empresa não tinha preparação para me receber porque as alunas não me aceitavam pela questão da minha genitália. Eu sai arrasada e chorando pela discriminação. Nunca fui impedida de algo por conta de uma genitália", revelou Jhully Carla.


Ainda de acordo com a vítima, o dono da academia insistiu em se referir a ela com o pronome masculino. "Ele disse: 'ele não é ela'. 'A academia é para mulheres'. E disse que se eu fosse atrás dos meus direitos eu iria sair perdendo porque ele estava cumprindo uma lei", afirmou.

 

Jhully Carla disse que procurou a academia por indicação de uma amiga e também pela proximidade de sua casa. Ela ainda argumentou que essa não é a primeira vez que o estabelecimento é acusado do crime de transfobia, e que outra mulher transexual também já passou por episódio parecido.

 

O que diz o estabelecimento

O centro de treinamento alegou que o caso "não foi da maneira" relatada pela mulher trans. Segundo a proprietária, quem a atendeu foi uma funcionária que explicou a Jhully o público-alvo do local.

 

"Veio para pedir a uma informação, não chegou nos trajes de malhar. Parece que queria fazer a inscrição. A funcionária disse que era academia feminina. Não sei se a pessoa fez com má intenção", narra.

 

A empresária diz ainda que "em nenhum momento" Jhully conversou com o seu esposo, proprietário da academia, que não fica na recepção de clientes, segundo disse. 

 

"Longe de mim, preconceito não existe aqui. Até tava falando que futuramente tenho vontade de deixar todo mundo malhar [homens e mulheres] para não ter B.O mais", finalizou.

 

Boletim de Ocorrência

Logo após o ocorrido, a funcionária pública fez um Boletim de Ocorrência com protocolo de preconceito - conduta transfóbica.

 

Jhully Carla se define como "ativista e militante" da causa contra a transfobia e relatou que está recebendo apoio de vários movimentos sociais e ONGs, como o Conselho Municipal de Direitos LGBT de Juazeiro do Norte, do qual faz parte, e do Núcleo de Diversidade e Gênero, além da Associação Cearense de Diversidade e Inclusão, Associação de Travestis e Mulheres Transexuais do Ceará e da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais.

 

A reportagem do Diário do Nordeste pediu mais detalhes à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), e aguarda retorno. 

 

Nota de repúdio

As Associações em Defesa pelos direitos das pessoas Trans (Travestis e transexuais) manifestaram "total repúdio" ao caso de transfobia denunciado por Jhully. "Ao mesmo tempo, prestamos solidariedade irrestrita à mulher agredida e a toda a população trans do Brasil".

 

Assinam a nota conjunta a Associação Cearense de Diversidade e Inclusão (Acedi), Associação de Travestis e Transexuais do Ceará (Atrac), Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e Fórum de Transexuais e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans). 

 

Crime de transfobia

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que transfobia é um crime enquadrado no artigo 20 da Lei do Racismo (7.716/1989), estando sujeito à punição de um a três anos de prisão, podendo chegar a 5 em casos mais graves. O crime é inafiançável e imprescritível.

 

De acordo com informações do Jusbrasil, a transfobia pode ser compreendida como um conjunto de fatores que agrega preconceito, violação de direitos humanos e fundamentais (como exemplo, a proibição do uso do nome social e da possibilidade de mudança no registro), exclusão estrutural (acesso à educação, ao mercado de trabalho qualificado e ao uso do banheiro correspondente ao gênero), e violências diversas como ameaças, agressões e homicídios.

 

Fonte: Diário do Nordeste

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