sábado, 26 de dezembro de 2015

Médicos traçam ações para a saúde

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Se as precariedades do sistema público e complementar de saúde têm se intensificado no Ceará, fato que neste ano evidenciou uma crise aguda, a perspectiva para 2016 é de necessidade de início urgente do processo de reestruturação da área. Caso contrário, avaliam os médicos envolvidos na formulação do Pacto por um Ceará Saudável - ação proposta pelo Governo Estadual para elaboração de políticas públicas em saúde - a situação crítica se repetirá. Soluções técnicas formuladas por um grupo de dez profissionais (médicos e acadêmicos) deverão ser entregues ao Governo no início do ano e expostas em um Fórum para a população em março.
As estratégias são traçadas por médicos que se reúnem há cerca de um ano, mas foram convidados oficialmente pelo governador Camilo Santana a compor o Pacto em agosto de 2015. Segundo os profissionais, a ação desenvolvida de forma voluntária deve "garantir subsídios técnicos" para as decisões do poder público a serem executadas nas próximas décadas. As análises vão desde o modelo mais eficaz de financiamento à distribuição geográfica ideal das unidades de saúde nos municípios.
Segundo o médico cardiologista Carlos Roberto Martins Rodrigues, conhecido como Dr. Cabeto, que coordena a elaboração do Pacto, o grupo tem conversado com entidades médicas, profissionais da área e diretores de unidades hospitalares para traçar o diagnóstico.
Relatório
No relatório preliminar ao qual o Diário do Nordeste teve acesso, que será enviado ao Governo, médicos com experiência em gestão pública e no sistema complementar citam três razões fundamentais para a crise do setor: o sub-financiamento, a gestão ineficiente e a vontade política aquém da necessária. Apesar do convite da Gestão, Cabeto diz que "a aceitação integral das propostas não está garantida". Fóruns com a sociedade e profissionais serão feitos para pactuar o que, posteriormente, poderá ser acatado pelo Governo.
O diagnóstico destaca ainda que o sistema estadual sofre porque "o modelo de atenção à saúde não está devidamente desenhado para enfrentar a realidade do envelhecimento da população e nem o atendimento a problemas crônicos de saúde".
O grupo, que envolve o médico pneumologista Plínio José da Silva, critica a ausência de acesso dos pacientes a informações relativas a índices de saúde.
Cabeto exemplifica a situação citando o sistema utilizado atualmente no Estado. "Se alguém quiser, por exemplo, se submeter a uma cirurgia cardíaca no Ceará, ele não conhece a mortalidade dessa cirurgia nos diversos hospitais que fazem o procedimento no Estado", garante.
O modelo também é apontado como "reativo quando deveria ser pró-ativo". Exemplo desta ineficiência é evidenciado pelo pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Alcântara, que participa do diagnóstico, sobre as atuais campanhas de combate ao Aedes aegypti. "Não são pensadas formas de prevenção e agora investe-se para combater aquilo que já deveria ter sido reduzido há anos. É complicado".
Emergência
Cabeto ainda critica algumas respostas imediatas dadas pelo governo diante da crise acentuada no primeiro semestre de 2015. A criação do IJF II, por exemplo, anunciada pela Prefeitura, na avaliação dele não tem garantias de ser eficaz. "Primeiro porque a nova unidade será localizada na mesma área da antiga. Segundo, o financiamento já é quase impossível do jeito que está, e a metodologia do IJF precisa ser reorganizada. Estão ampliando um sistema que não tem custo eficácia", avalia.
O médico defende que a criação de hospitais é necessária no Ceará, já que há uma demanda de cerca de 2 mil leitos para o Estado, mas, segundo ele, "a metodologia de como serão feitos e como as unidades serão incorporadas ao sistema deve ser debatida minuciosamente".
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual da Saúde informou que irá se pronunciar sobre o "Ceará Saudável" quando receber as propostas.

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