domingo, 1 de novembro de 2015

As lutas e desafios da Igreja no Ceará


Antiga Catedral foi derrubada. A nova foi entregue em 1978, por dom Aloísio Lorscheider
Papa Francisco declarou que “Se a Igreja está viva, deve surpreender”. No ano em que completa 100 anos, a Arquidiocese de Fortaleza tem o desafio de resgatar sua história e de se tornar mais viva ainda. No próximo dia 14, termina o ano do jubileu e a data é oportunidade de congregar cerca de 4 milhões de fiéis, 31 municípios, 122 paróquias e quase 400 sacerdotes também para reavaliar os desafios que a instituição mantém hoje.
A história saiu dos livros de documentos da Arquidiocese e ganhou, durante os últimos 12 meses, espaço nos site e publicações da instituição. Geová Lemos, membro da Comissão do Centenário, conta que muitos episódios importantes durante esses 100 anos serviram de inspiração para novos momentos. Ele conta empolgado a história da Arquidiocese, mas comemora a ampliação da atuação dos tempo atuais. “Dom José Antônio Tosi foi um dos arcebispos que mais criou paróquias de nossa história. É a Igreja crescendo”, justifica.
O assessor para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na Região Nordeste I, padre Gilson Soares, defende que esse é tempo de festa para toda a comunidade católica do Estado, mas também é de trabalho. “No mês passado a gente se reuniu com representantes de paróquias de todo o Estado para definir dois eixos de ação. Um é o fortalecimento e a criação de comunidades. O outro é o caráter social em defesa da vida, no campo e na cidade”, explica ele, que ressalta que este é um marco importante para a comunidade católica.
Não apenas para os católicos. Desde a década de 60, um movimento dentro da Igreja exige uma abertura para o mundo e uma postura de responsabilidade em relação à construção de uma sociedade mais justa. Quase cinco décadas depois, esse ainda é o maior desejo para os próximos anos de quem participa do dia a dia da instituição.
Por uma Igreja social
O filósofo, teólogo e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Ceará, Thiago Valentim reconhece que, por mais que exista a consciência social, o desafio é que essa missão seja aceita por todos e não somente pelas pastorais sociais. “Precisamos fortalecer o entendimento que a Igreja tem que estar onde as pessoas mais empobrecidas estão. Em segundo lugar, é necessário abrir-se ao mundo. Não dá para entender uma Igreja fechada em sua sacristia”, diz ele, que lembra que no período em que dom Aloísio Lorscheider foi arcebispo de Fortaleza, de 1973 a 1994, essa compreensão era forte.
Dom Aloísio fortaleceu as pastorais sociais e estimulou a criação de outras que foram bem atuantes, como a da Terra, a da Criança, da Comunidade Carcerária, entre outras.
“A Pastoral da Terra tem 40 anos de atuação. É preciso se reinventar com o tempo. Hoje o desafio se amplia. Além da luta pela Reforma Agrária, travamos outras, como a busca pelo direito ao território de comunidades tradicionais, como quilombolas, indígenas... E também entendemos territórios como lugar de educação, lazer, saúde”, argumenta Thiago Valentim.
Não parar no tempo e abrir os olhos para a sociedade de sua época fez com que outras pastorais surgissem, justamente como reflexo da necessidade de enfrentamento a novos problemas. “Precisamos ainda melhorar, e muito, nossas articulações internas”, reconhece ele, que pede mais visibilidade ao trabalho da Cáritas e da pastoral do Menor, por sua atuação na zona urbana.
Para a diretora da Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza, Ana Maria Freitas, existe um número pequeno de pessoas atuando na área social, mas há, contudo, uma capilaridade nas comunidades. Ela defende que a Igreja precisa trabalhar em busca dos direitos de todos. “Nosso trabalho exige que busquemos políticas públicas e trabalho na organização social. Fazemos a mediação, mas acreditamos que as comunidades em que atuamos precisam ser sujeitos da sua própria libertação”, completa.
“Acredito que nosso maior desafio é a compreensão de que precisamos abraçar as pessoas que ninguém abraça, que são invisíveis, excluídas. Às vezes, sofremos essa mesma exclusão e nos sentimos nosso trabalho invisível. De quem é a culpa? Nossa? Do outro? Temos ainda dificuldades financeiras. Falta apoio moral e financeiro sim. Além da dificuldade de inserção nas comunidades que são dominadas pelo narcotráfico”, desabafa Ana Maria.
Hoje, se destaca a Pastoral da Sobriedade, uma das mais novas e que trabalha com a problemática da droga, e a do Povo das Ruas. O trabalho daqui chegou a ser replicado em outros Estados, inclusive. A diretora da Cáritas lembra que a articulação das pastorais sociais foi multiplicada, a criação de uma agência de notícias foi referência, e muitas ações da Igreja serviram para se tornar políticas públicas ampliadas.
Festa
Para marcar a data, no dia 13 de novembro, no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), a partir das 14h, cerca de 200 mil pessoas se reunirão em louvores, apresentações artísticas e celebração eucarística com a presença do núncio Apostólico do Brasil, Dom Giovanni d’ Aniello. Entre os dias 7 a 12, terá uma semana eucarística para todas as paróquias para trabalhar a ação missionária, com destaque para a juventude.

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