quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Órgão estuda ligação de microcefalia com zika

Ainda não existe na literatura nada citando a relação da anomalia à infecção por zika, no entanto, as investigações estão sendo feitas por meio da Fiocruz
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) confirmou 16 casos de microcefalia no Estado em 2015. A nota técnica divulgada nesta terça-feira informa que todos os pacientes com a anomalia serão reanalisados para consolidar o diagnóstico e tentar identificar causas. O Ministério da Saúde também divulgou boletim epidemiológico ontem citando o aparecimento de 399 casos em 7 estados, todos do Nordeste. O órgão federal, mesmo não apontando causas para o aumento de ocorrências, suspeita da relação dessa doença com a infecção por zika vírus.

Em índices gerais, o Brasil passou por um aumento significativo do problema, já que, em 2014, 147 crianças nasceram com microcefalia, enquanto 2013, foram 167 e, em 2012, 175 casos. Já o Ceará teve sete ocorrências no ano passado, cinco em 2013 e nove em 2012.

Embora o Ministério da Saúde ainda afirme não conhecer a causa do aumento drástico de ocorrências da doença, a pasta aponta ser altamente provável que as ocorrências tenham relação com possíveis infecções das gestantes com o vírus do zika, nova enfermidade no Brasil, com altos índices identificados neste ano, e que também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue.

Os dados foram apresentados ao Ministério ontem pela Fiocruz, que participa das investigações. O laboratório constatou a presença do genoma do vírus zika em amostras de duas gestantes da Bahia, cujos fetos foram confirmados com microcefalia por meio de exames de ultrassonografia.

No entanto, o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Anastácio Queiroz, diz que não existe na literatura nada citando o zika vírus como causa de microcefalia e, caso esteja ocorrendo, afirma que não tem como esclarecer os casos, pois não existe um teste fácil para o zika. Outro problema que cita é o fato de o zika se parecer com a dengue e a chikungunya, que possuem quadro benigno.

Exames

“As vezes você suspeita, solicita um exame, mas não tem onde fazer. É um teste sorológico, como se faz para dengue e chikungunya, mas para zika, embora já exista, não está comercialmente disponível ainda”, destaca. O infectologista explica que há várias causas da microcefalia, entre genética e infecciosas. A rubéola, por exemplo, já foi causa frequente, amenizada pelas campanhas de vacinação. Outras substâncias também podem influenciar, como o álcool e substâncias químicas, e mães com desnutrição.

O primeiro Estado a perceber o aumento irregular no número de casos de microcefalia foi Pernambuco, que já soma 268 recém-nascidos com o problema, considerado raro. Houve registro ainda em Sergipe (44), Rio Grande do Norte (39), Paraíba (21), Piauí (10) e Bahia (8).

Recomendações

A recomendação do Ministério é para que as gestantes mantenham o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames solicitados pelos médicos. O órgão pede ainda que as futuras mães não consumam bebidas alcoólicas ou qualquer outro tipo de drogas, não utilizem medicamentos sem orientação médica e evitem contato com pessoas com febre ou infecções.

Outro ponto ressaltado pelo órgão federal é que as gestantes adotem medidas para reduzir a presença de mosquitos transmissores do zika vírus, com a eliminação de pontos de acúmulo de água, além de proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas e usar calças e camisas de manga comprida, bem como usar repelentes apropriados para gestantes.
Saiba mais
O que é microcefalia?
Uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Os bebês nascem com perímetro encefálico menor que 33 cm, considerado o normal
Quais são as causas?
Pode ser efeito de uma série de fatores, como substâncias químicas ou agentes biológicos, como bactérias, vírus e radiação
Pode deixar sequelas?
Cerca de 90% dos casos são associados com retardo mental, exceto os de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela variam a cada caso. Tratamentos realizados desde cedo melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida

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