sábado, 24 de fevereiro de 2018

Vegetação nativa é ameaçada por plantas invasoras no CE

A Secretaria do Meio Ambiente diz que a luta contra o processo de desertificação no Interior também será prioridade nos próximos anos; em vários locais a degradação de terras é visível ( FoTo: Kid Júnior )


A vegetação nativa do Ceará ao longo dos últimos anos tem se tornado cada vez menos dominante no Estado. Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), até o fim do ano passado, apenas 59% dos biomas daqui continuaram intactos. A falta de políticas públicas para impedir a popularização de espécies de plantas invasoras é considerada por especialistas um dos principais motivadores desse problema.
Visando mudar este cenário, o Governo do Estado anunciou, neste mês, através de publicação no Diário Oficial, instruções normativas em consonância com o Programa de Valorização das Espécies Vegetais Nativas - Lei Estadual 16.002/2016. A publicação orienta os gestores de viveiros públicos sobre a não produção de espécies exóticas invasoras e a também recomenda uma lista de espécies nativas para ações de florestamento e reflorestamento no Ceará.
O objetivo das normas é estimular o uso de espécies nativas em projetos de plantios de árvores, para formar florestas, arborização urbana e paisagismo, bem como orientar gestores de viveiros públicos municipais quanto a produção das mesmas em oposição à produção das exóticas e das exóticas invasoras.
Os referidos instrumentos foram elaborados e serão atualizados periodicamente pelo Grupo de Trabalho Multiparticipativo (GTM), instituído por meio do Decreto Estadual Nº 32.146 de 27 de janeiro de 2017 e composto por 14 instituições públicas responsáveis por avaliar, elaborar e implementar o Projeto de Florestamento, Reflorestamento e Educação Ambiental no Estado do Ceará.
De acordo o secretário do Meio Ambiente, Artur Bruno, as novas determinações são propostas pelo Programa de Valorização das Espécies Vegetais Nativas, que estimula e incentiva os municípios do Ceará a elaborarem os seus planos de arborização utilizando espécies vegetais nativas, evitando as exóticas invasoras, como aconteceu em passado recente.
Ele lembra que o processo de invasão de espécies exóticas no Estado começou ainda nos anos 80. "Lamentavelmente, nas últimas décadas no Ceará, em Fortaleza, e no Interior, as gestões fizeram programas de arborização com árvores inadequadas para a fauna e flora. Basta ver o Nim, árvore mais plantada por gestões municipais nas décadas passadas. Ele é muito prejudicial às demais plantas do Estado. Isso gera prejuízos. Dificilmente você vai ver um fruto ou uma ave, por exemplo, em uma vegetação como ela".
Além da questão ambiental, Artur Bruno ressalta também importância de vegetação como marca cultural. "Temos que valorizar as árvores nativas, que são muitos bonitas e também são um patrimônio cultural. Contamos com o apoio das empresas privadas, sindicatos e toda sociedade civil para mudar esta realidade. Estamos trabalhando também forte nisso. Por exemplo, neste ano, vamos concluir o plantio de 30 mil mudas na nascente do Rio Pacoti. Além disso, o Parque do Cocó ganhará 40 mil mudas através de doação da Construtora C. Rolim. Outras 2 mil mudas serão doadas pela Unimed para serem plantadas no Parque Botânico", revela .
Reflorestamento
As matas ciliares do Rio Jaguaribe, norte do Estado, também passarão por um processo de reflorestamento, através de uma parceria entre a Sema e secretarias de recursos hídricos. A luta contra o processo de desertificação no Interior também será prioridades nos próximos anos. Outro foco da gestão é a recuperação de viveiros regionais
"Todas essas ações fazem parte de um programa chamado Ceará Mais Verde. O objetivo principal dele é recuperar áreas que foram desmatadas. As áreas urbanas também serão contempladas. Queremos recuperar o máximo possível nossa vegetação", finaliza.
Maria Iracema Bezerra Loiola, do Laboratório de Sistemática e Ecologia Vegetal (Lassev), do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a proliferação de plantas invasoras é, de fato, uma preocupação. "Elas causam alteração no meio ambiente em que vivem. Caso se alastrem, a probabilidade deque as espécies nativas sejam substituídas é muito grande. As plantas invasivas se popularizaram nas últimas décadas porque elas têm um desenvolvimento muito mais rápido do que os biomas naturais daqui. Outro problema sério é a forma incorreta de utilização do solo na agricultura no Estado. Isso gera processo de erosão, intemperismo do solo, entre outros fenômenos. Temos que conscientizar, principalmente, os agricultores a evitar queimadas e técnicas que desgastem indecisamente o solo para não deixá-lo danificado, pois isso afeta toda a cadeia", aponta.
Atraso
Já Oriel Herrera Bonilla, professor do Curso de Biologia e integrante do Laboratório de Ecologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acrescenta que o Brasil e, consequentemente, o Nordeste e o Ceará, estão atrasados em políticas públicas que protegem as espécies de plantas nativas. "A nossa Caatinga está cheia de exemplos de plantas exóticas invasoras. A Carnaúba, por exemplo, é uma das árvores que mais têm sofrido pela presença de uma planta conhecida popularmente como unha-do-diabo. Ela floresce e cresce rapidamente, sufocando a carnaúba".
Saiba mais
Planta nativa
É uma planta silvestre ou autóctone, que é nativa ou natural de um determinado ecossistema ou região.
Planta Exótica
Toda espécie que se encontra fora de sua área de distribuição natural, isto é, que não é originária de um determinado local.
Planta Exótica Invasora
É definida como uma espécie exótica que prolifera sem controle e passa a representar ameaça para espécies nativas e para o equilíbrio dos ecossistemas que passa a ocupar e transformar a seu favor. Pode representar risco até às pessoas.

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