segunda-feira, 29 de junho de 2020

Cidades do interior em lockdown registram elevado fluxo de pessoas nas ruas

Em Crato, o primeiro dia de lockdown foi marcado por aglomeração de pessoas no Centro comercial
No primeiro dia de 'lockdown' nas cidades de Iguatu, Tianguá, Crato, Barbalha e Brejo Santo, a população saiu às ruas em busca de serviços bancários e compras em supermercados. A adesão às medidas rígidas de isolamento social varia entre os centros urbanos, mas o que se observou de um modo geral foi a formação de filas e de aglomerações de moradores.

Essas cinco cidades se somam a outras duas que já estavam em lockdown também por decisão de decreto estadual: Sobral, na zona Norte (há 14 dias) e Juazeiro do Norte, no Cariri cearense (há sete dias).

Salto 
A medida de adoção de sistema mais rígido teve por base o crescimento do número de casos e de óbitos por Covid-19 e taxa de ocupação de leitos de UTI e de enfermarias, na última semana.

Em Iguatu, que já estava em lockdown por decisão da gestão municipal desde a última quinta-feira (25), a movimentação nas ruas é reduzida. As principais vias do centro comercial foram fechadas com grades de ferro para impedir o trânsito de veículos.

Há movimentação, entretanto, de pessoas no entorno das agências bancárias, casas lotéricas e correspondentes bancários. “Estou na fila porque preciso receber o benefício social”, disse a dona de casa, Marilena Souza. “Lamento porque as pessoas ficam muito perto uma das outras”.

Jucileide de Souza é outra dona de casa que veio para a Caixa Econômica Federal enfrentar a fila. “Vou ficar aqui até as 13 horas”, previu. “Acho que o prefeito não devia ter fechado tudo, supermercados, caixas rápidos, porque agora está havendo aglomeração”. 

A artesã Tácia Bezerra disse que concorda com o lockdown, mas também reclamou contra o fechamento de bancos desde a última sexta-feira. “Está reabrindo hoje e o resultado é um número grande de pessoas”, contou. “Vim tira dinheiro por meu pai, sogro, sogra e esposo, por quatro pessoas, e em bancos diferentes”. 

O subcomandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, em Iguatu, coronel Oliveira, explicou que todas as quatro vias de acesso à cidade estão com barreiras sanitárias e sendo monitoradas. “Nesse primeiro momento, estamos com trabalho educativo”, explicou. “O isolamento mais rígido visa à proteção dos moradores”.

O prefeito de Iguatu, Ednaldo Lavor, voltou a pedir o apoio da população. “Somente saiam de casa se for de extrema necessidade. Vamos manter o isolamento social, distância nas filas”, frisou. “O decreto do governo do Estado reforça que estávamos no caminho certo quando nos antecedemos e decretamos lockdown porque os números de casos, infelizmente, vêm crescendo”. 

De acordo com o decreto municipal em Iguatu, na segunda, quarta e sexta-feira, postos de combustível funcionam das 7 horas às 11 horas; os supermercados das 14 horas às 22 horas; bancos e lotérias das 9 horas as 14 horas. Nos demais dias, tudo volta a ser fechado. 

Tianguá 
Na cidade de Tianguá, na Serra da Ibiapaba, foram observadas filas no entorno de bancos e na farmácia municipal para entrega de medicamentos à população. “Hoje é dia de pagamento de aposentadorias, benefícios da Bolsa Família e isso faz com que muitas pessoas viessem à rua”, observou o locutor, Mateus Urias. “Hoje está um dia comum, igual aos outros”. 

Nas redes sociais, vários moradores postaram fotos e vídeos e comentaram sobre a movimentação intensa nas ruas da cidade de Tianguá. Nas ruas do Centro foram instaladas barreiras fixas. “Infelizmente, os moradores afastam ou derrubam e passam de motos e carros”, disse o aposentado, Francisco Morais.

“Fui na farmácia pública pegar o meu remédio e não tive coragem de ficar, porque estava entupido de gente”, reclamou o autônomo Val Muniz. 

O Sistema Verdes Mares tentou contato com os secretários de Saúde e de Indústria e Comércio de Tianguá, mas as ligações não foram atendidas. 

Cariri 
Na região do Cariri, o quadro não é diferente das demais cidades. Juazeiro do Norte, cidade polo da região, que já estava em lockdown há sete dias, por meio de decreto do governo do Estado, também voltou a registrar movimentação nos bancos, casas lotéricas e entorno dos mercados. 

A Prefeitura de Juazeiro do Norte esclareceu que a rigor as medidas são de isolamento rígido, e não prevê o fechamento de todos os setores, mas que observa a redução no número de veículos em torno de 40% e do fluxo de pessoas nas ruas do centro comercial. 

O horário de funcionamento dos mercados públicos foi reduzido das 6 horas às 13 horas. Há fiscais no interior das unidades de abastecimento, obrigatoriedade de uso de máscaras e medição de temperatura de consumidores e vendedores. 

Na cidade do Crato, o primeiro dia de lockdown foi dedicado à fiscalização e orientação dos moradores. “Estamos em fase de transição e o que pode funcionar está aberto, mas estamos fiscalizando para evitar aglomerações, proximidades entre as pessoas e fechar o que está proibido de abrir”, explicou a coordenadora da Vigilância Sanitária, Ana Lígia Aquino. 

“As praças foram interditadas e esperamos sensibilizar, conscientizar a população, mão não é fácil, os moradores não ajudam”. 

O mesmo ocorre na cidade de Brejo Santo que também está no decreto do governo do Estado em adoção de medidas de isolamento mais rígidas. “O povo está nas ruas como se fosse um dia normal e a segunda-feira geralmente é dia de maior movimentação nos bancos e na cidade com a vinda de moradores da zona rural”, observou o comerciário, Carlos Roberto Marques. 

O quadro se repete em Barbalha, porquanto moradores saem às ruas para compra e resolver negócios nas agências bancárias. “O movimento é um pouco menor, mas acho que deveria ter menos agente nos bancos e mercantis”, disse a balconista, Fabrícia Sampaio. 

Avaliação 
O presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, pontuou que a medida do governo do Estado foi necessária por causa do aumento de casos nos últimos dias. 

“Foi uma decisão correta e com ela vem o aumento do número de leitos de UTI para dar suporte ao atendimento da população do interior”, disse. “Não há outro caminho, a não ser o isolamento social rígido, o uso de máscaras e o distanciamento entre pessoas”.                 Diário do Nordeste

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