quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Desbravar a Chapada do Araripe é boa opção para apreciar contato com a natureza e a história


Trilha na Chapada do Araripe convida para imersão
natural e histórica (Foto: Roberta Sousa)
Você certamente já ouviu a profecia "O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão", espalhada por Antônio Conselheiro nos sertões da Bahia. Talvez o que não seja do conhecimento da maioria é que ela bebe de uma lenda contada pelos índios Cariri que viveram na região do Crato, e que ainda hoje continua a ser difundida no Sul do Ceará a quem visita o sopé da Chapada do Araripe.

Foi esse um dos motivos que me deixaram curiosa, mesmo sob o sol de meio-dia, a fazer a trilha da Nascente (ou das Samambaias), integrada ao Geossítio Batateiras. É que ao fim dela eu encontraria a origem dessa história contada desde o século XVII pelos nativos daquela região.

Como uma boa moradora de cidade grande que se aventura só de vez em quando em trilhas naturais, fui totalmente desprevenida: sem chapéu de sol, sem repelente, sem garrafa d'água. Por sorte, o percurso era todo na sombra, mas ainda assim recomendo não seguir o meu exemplo.

Preparada mesmo estava Deborah, instrutora do curso técnico em guia de Turismo do Senac da localidade. Foi ela quem conduziu a imersão natural e histórica por uma trilha sem grandes desafios (e por isso mesmo própria para pessoas de todas as idades), além de muito relaxante, por ser feita na beira da nascente do Rio Batateiras.

Sentidos
Pelo caminho, o som das cigarras, do fluxo da água, do balançar das árvores e até do canto do soldadinho-do-Araripe alertam para uma experiência mais sonora do que propriamente visual. As flores e as diferentes espécies de samambaias completam o jogo de sentidos.

A caminhada pode durar uma hora ou mais, a depender da disposição de quem a faz para contemplar os detalhes. A meta é chegar na queda-d'água da "Pedra da Batateiras", que guarda todo o mistério da lenda Cariri.

Para os nossos antepassados indígenas, todo aquele vale era um mar subterrâneo, e, debaixo da terra dormia a Serpente d'Água, cujo imenso caudal era represado pela tal "Pedra da Batateiras".

Os pajés profetizavam que ela iria rolar, todo o vale do Cariri seria inundado e as águas, em fúria, devorariam os "homens maus" que tinham roubado a terra e escravizado os índios. Quando as águas baixassem, a terra voltaria a ser fértil e livre, e os Cariri voltariam para repovoar o "Paraíso".

Adaptada aos dias de hoje, a história serve de alerta para aqueles que ambicionam a região para a construção de imóveis, por exemplo. Por enquanto, a pedra segue intacta, e até hoje não se sabe o que pode acontecer se alguém resolver desafiar as leis naturais e dos primeiros moradores. É melhor não arriscar.

Bom mesmo é lavar o rosto com a água do Rio Batateiras. A experiência é tão revigorante que mais parece ter poder curativo, fazendo entender porque a natureza deve ser respeitada e compartilhada.

Serviço
Trilha da Nascente (Samambaias)
Bairro Lameiro, Sítio Luanda, Crato, Ceará.
De Fortaleza, saem voos diários para Juazeiro do Norte. Lá, a visita ao Geossítio pode ser agendada com a Anhaguera Turismo pelo telefone (88) 9838.5440.
Os preços são negociáveis.        Diário do Nordeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário